Centro de Saúde

Assenti sorrindo levemente com ela e vesti a minha camisola e o resto das coisas, puxei as mangas para baixo e vi-me ao espelho colocando o cabelo de modo a que ficasse impecável, ou pelo menos quase. Dei-lhe a mão quando outra enfermeira me desligou das máquinas e fui com ela até à rua.

Sorri e entrelacei os nossos dedos enquanto caminhámos até ao exterior do hospital. Os meus pais já estavam dentro do carro à nossa espera. - A Lilly vai no meio. - ri-me e dei-lhe um beijinho antes de termos de nos separar para entrar cada um pela sua porta.

Ri-me vendo Lilly toda animada como sempre e entrei dentro do carro colocando o cinto.
-Mete o cinto Lilly - disse colocando-o e dei-lhe um beijinho na cabeça encostando a minha ao vidro enquanto íamos para casa deles.

Fui de urgência para o hospital e fui recebido da mesma forma, disse tudo o que se passava comigo e vi-os a ficar intrigados mas não dei grande caso, devia estar a fazer uma tempestade num copo de água. Eles fizeram todo o tipo de exames e até me tiraram sangue pedindo para que voltasse em três dias.

Estava pior, eu já não conseguia comer nada e sentir-me bem com isso, sempre que dava um toquezinho nalguma coisa e era dores enormes. Engoli em seco quando entrei no consultório e a médica me olhava com alguma pena.. ou não sei. Tocou-me no ombro como se eu fosse de vidro e fez-me sentar.
-O que se passa? - perguntei começando a sentir-me mais preocupado. Ela começou a falar de boa alimentação, que eu nunca tive apesar do meu corpo, e de todas as coisas que aconteciam quando não se tinha uma. Comecei a perceber que se passava mesmo alguma coisa de mal. -O que é que se passa? - voltei a perguntar e ela engoliu em seco.
-Foi-lhe diagnosticado Leucemia mieloide aguda

Saí do hospital ainda a tremicar, tinha dito que ia pensar nos tratamentos que ia fazer, ela disse que era uma leucemia que crescia rápido, por isso se não começasse nenhum tratamento o máximo que teria era um ano, e muito mal passado, um máximo com muitos arredondamentos. A minha vida estava a desmoronar-se e foram só digas cinco palavras.

Agarrei-me a ele com força respirando com calma.
Fomos até ao hospital e fui logo levada para uma sala de partos.
- Quer assistir? - perguntou uma médica a Blake.

Levei-a o mais rapido que pude para o hospital
Ela foi levada para a sala dos partos e eu fiquei a entrada da sala
- Eu?
Perguntei
- Posso ir se ela quiser

- Não o vou obrigar. - murmurei à médica quando veio ter comigo e me perguntou.
Olhei o teto enquanto ela ia dizê-lo a Blake e inspirei.

Quando a medica disse a sua resposta, entrei.
- Eu assisto
Peguei-lhe na mao e beijei-lhe a testa

Respirei fundo e segui indicações da médica.
Olhei-o.
- Não me agarres ou eu posso magoar-te a apertar. - murmurei com a voz fraca, respirando fundo diversas vezes e soltando um pequeno grito quando tudo começou.

- Cala-te e faz força, a tua mãozinha não me afecta
Passei a mão pela sua testa suada
- Força Alli

Assenti levemente e fechei um pouco os olhos, reunindo forças e fazendo força quando a médica o ordenou; fiz isso uma quantas vezes, começando a senti-me cheia de dores quando finalmente viram a cabeça.
Tu consegues Alli...
Apertei a mão de Blake com a força que me restava e depois senti-me perder as forças instantaneamente. Os olhos pesaram-me e fechei-os, afrouxando o aperto até ser nulo.

* Allison off *

Os sons de vitalidade que provinham da máquina começaram a baixar e uma das médicas olhou rapidamente para Blake.
- Por favor, saia daqui por um bocado. Pode ficar do lado de fora.
Quando Blake acabou por obedecer, começaram a tentar reanimar a rapariga para que ela continuasse com o parto, visto que a criança queria sair.
Chamaram um médico e mais uma equipa especializada entrou; o médico, depois de uns minutos, foi até Blake. Clareou a voz e olhou-o.
- Isto será complicado de dizer... - começou, olhando os médicos e médicas que rodeavam o corpo de Allison. - Mesmo que ela tenha tido todos os cuidados, algo correu mal - respirou fundo e olhou para Blake. - Só poderemos salvar uma.

- O que é que se está a passar?
Perguntei enquanto saia.
Andei as voltas no corredor até a medica vir ter comigo
- O que?
Fiquei um bocado em choque com o que me perguntou
- Salve a Allison
Não hesitei porque não a podia perder.
Bebés tem muito tempo para nascer

A médica assentiu levemente.
- Pode aguardar naquele quarto. - indicou. - Depois mal acabemos, levamos a menina para lá.
Voltou a entrar no quarto.
- Salvem a rapariga. - disse com a voz neutra, vendo os outros assentirem.
Continuaram a trabalhar e a fazer de tudo para salvar Allison.

Fui para onde a medica me mandou e fiquei a andar as voltas
- Fodasse tanto tempo
Resmunguei enquanto olhava para o relogio.
Tinham passado horas quando a trouxeram

A maca em que o corpo de Allison era transportado foi posicionado e um médico pegou na rapariga ao colo, deitando-a sobre a maca; já lhe tinham vestido a bata e ligado a todos os fios necessários.
- Ela é capaz de despertar em breve. Mal o fizer, chame-nos, por favor. - pediu a Blake de forma educada e saiu.

Assenti com a cabeça e sentei-me ao seu lado
- O que é que te aconteceu?
Não lhe toquei porque ainda estragava alguma coisa

* Alisson on *

Senti o meu corpo completamente inerte e tentei mexer os dedos. Falhado. Bem, ok. Mexe o pé Allison. Falhado.
Ouvi a voz de Blake e tentei agarrar-me a ela para acordar; inspirei e abri a mão que estava fechada. Só queria que ele notasse.

- Só espero que não te custe muito o que aconteceu
Vi a sua mão mexer e levantei-me.
- Ela está a acordar
Disse a enfermeira para ir chamar o medico

O que aconteceu? - tentei dizer, abrindo e fechando a boca como um peixe fora de água.
Abri um pouco os olhos, voltando depois a fechar enquanto ouvia um 'pipipi' de uma máquina a descer de volume.
Ouvi portas a abrir e fechar e senti gente à minha volta. Não soube de mais nada pois acabei por fechar os olhos.

- Nao te preocupes com isso agora
Beijei-lhe a testa e afastei-me para os médicos a cuidarem dela.
Sairam e voltei a sentar-me
- Alli
Chamei

Ouvi-o chamar-me e movi a cabeça na direção da sua voz, sem conseguir abrir os olhos.
Abri e fechei a mão e esperei.

Vi a sua mão mexer e suspirei
- O que eu tenho para te contar é grave
Passei a mao pelo cabelo e levantei-me
- Como é que te digo isto? Não sei ser querido
Sentei-me na cama e pus a sua cabeça nas minhas pernas
- Abre os olhos

Engoli em seco quando o ouvi falar e suspirei ao sentir a sua cabeça sobre as minhas pernas; tentei abrir os olhos para olhá-lo mas não consegui.
Reuni forças e levantei a mão, pousando-a no seu cabelo e tossi um pouco.
- Amo-te. - murmurei com a voz rouca e a garganta seca, voltando a desligar novamente.
Mas o que se estava a passar comigo?

- Não Alli, tens de acordar
Suspirei. Ok, isto está a correr mal
- Eu não te posso contar contigo assim
Passei a mao pelo cabelo
- Como é que eu posso contar isto?

Quando acordei estava num sítio completamente branco, cheio de penas.
- Blake? - chamei, procurando entre arbustos de penas. Mas era tudo de pena?!
Olhei os meus pés. Estava completamente descalça. E com um vestido branco. Sorri ao ouvir o choro de um bebé. O meu bebé.
Corri até Brooklyn e estendi os braços na sua direção, vendo-a desaparecer e aparecer a uns metros de mim. Tentei novamente. E outra. E depois mais outra. Sem nunca conseguir apanhar a minha menina.
- Brooklyn, vem à mãe. - ralhei como se ela fosse uma criança traquina e voltei a ir na sua direção; ela voltou a desaparecer mesmo em frente aos meus olhos, quando estava prestes a tocar-lhe.
Olhei em volta, prevendo encontrá-la novamente mas isso não aconteceu. Chamei-a. Chamei Blake. Uma e outra vez. Nenhum apareceu, falou, respirou, chorou, respondeu.
Deixei-me cair sobre o chão de penas e senti-as à minha volta, como que a cobrir-me. Levantei-me rapidamente e corri, sentindo-me perseguida.
- Blake. Brook. - chamei enquanto corria e ofegava.

* Allison off *

O corpo de Allison estava novamente parado, a respiração quase suspensa. Praticamente inaudível.
Pequenas lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, sem razão aparente. Todas seguiram caminhos distintos, molhando-lhe as faces e a almofada.

Chamei as enfermeiras quando vi o seu pulso fraco.
- Allison aguenta
Limpei as lágrimas que caiam.
- Não te podes ir também
Ela parecia já saber o que tinha acontecido, devia ser instinto de mãe.
- Eu continuo aqui

* Allison on *

Ouvi a voz de Blake. Distante.
Não te podes ir também ouvi-o. Também? Quem tinha ido?
Olhei em volta quando deixei de me sentir seguida e voltei a procurar a minha bebé, não voltando a encontrá-la; procurei por todos os cantos mas parecia voltar sempre ao mesmo.
- Brook? Brooklyn? - chamei, cada vez mais alto. A minha voz a entoar. A fazer eco. E ninguém a aparecer.
Quando Brooklyn apareceu deitada sobre as penas, a abanar os bracinhos frágeis e as pernas, a chorar, tentei correr para ela mas sentir-me ser puxada. Tentei libertar-me mas não conseguia.

* Allison off *

Os médicos tentavam recuperar o pulso da rapariga mais uma vez e um arfar ouviu-se vindo dela; os seus olhos piscaram e depois as pálpebras repousaram, juntando os pestanas.
Uma enfermeira mediu-lhe o pulso enquanto olhava para Blake.
- Não sabemos se ela sobreviverá... - disse com uma voz calma.

- Como não sabem?
Perguntei irritado
- É que nem pensem em desistir. Ela tem 18 anos
Comecei a gritar
- Se não são competentes para tomarem conta dela aqui, eu levo-a a outro hospital
Sentia o sangue a fervilhar nas veias. Já tinha perdido o Con e a bebé, não a ia perder a ela
- Salvem-na