Centro de Saúde

Assenti e sorri à família, eles eram simpáticos comigo e faziam-me sentir integrado. Olhei para Ruby quando eles saíram levantei-me passando a mão pelo seu braço.
-Tens que acordar está bem? - perguntei sabendo que não ia obter resposta e voltei a sentar-me não largando a sua mão. Fechei os olhos encostando a cabeça à almofada do sofá e adormeci quando já era tarde.

Ruby off mas on o.o ok é na cabeça dela o.o
Parecia que estava num filme. Estava tudo a preto e branco quando eu abri os olhos. Estava numa cama e dei um salto quando vi que ao meu lado estava um homem. Parecia adormecido ou morto.. Tentei levantar-me da cama mas prenderam-me o braço. Olhei para baixo e vi a mão dele. Só quando voltei a levantar o olhar é que notei que ele tinha uma parte da cara queimada - Sabes que não consegues sair daqui. Já passamos por isto. Não és forte o suficiente. Como é que ele diz? És uma princesa. - sorriu - Eu não te vou deixar em paz. És gira e eu gosto das malucas. - tentei soltar-me do aperto dele mas não conseguia, apesar de fazer o máximo que podia, continuava ali presa com ele.

Estava num sono tão leve que a única coisa que tinha era os olhos fechados e sonhava um bocado, mas conseguia ouvir tudo e sabia que estava a dormir. Senti alguma coisa mexer-se de baixo da minha mão e abri os olhos olhando para Ruby e vendo-a a agarrar-me na mesma. Agarrei-a com as duas mãos beijando os seus dedos.
-O que é que se passa? -perguntei baixinho.

- O que é que se passa? - perguntou sorrindo - Estás com medo? Eu se fosse a ti também estava. És fraca. Porque é que achas que aceitas que te batam e entras em carros com malucos? Porque és fraca e desconfio que também sejas um bocadinho maluca. - voltei a tentar soltar-me mas não conseguia - Deixa-me em paz. - pedi baixinho a choramingar, sentindo as lágrimas a escorrerem-me pelas bochechas.

Aproximei-me mais dela passando a mão pelo seu braço e vendo as suas bochechas a brilhar. Estava a chorar? Será que só para mim é que o coma tinha sido divertido? Tinha sido tão divertido que não me apeteceu acordar tão cedo. Tinha sido mais divertido do que a vida que tinha levado por dezoito anos. Passei as mãos pelas suas bochechas limpando-as e beijei os seus lábios sentando-me na cama enquanto brincava com os seus dedos.

- Não interessa o que tu faças. Podes acordar mas eu não te vou deixar em paz. - disse ele sorrindo - Eu estou sempre aqui. Na tua cabeça. - riu-se e largou-me o pulso. Eu só queria acordar e sair daquele filme. Acorda acorda acorda acorda acorda. Fechei os olhos com força e abri-os respirando fundo.

Passei a mão pelo seu cabelo e foi aí que percebi que ela ia acordar. Sorri levemente quando abriu os olhos e olhei para a porta e para a janela vendo quase nenhum médico a passar.
-Hey - murmurei baixinho.

- Kev. - olhei para ele e pisquei os olhos várias vezes. Fiz uma careta - Doi-me a cabeça. - levei a mão ao sitio onde me doia e senti uma faixa de ligaduras na cabeça - O que se passou?

Agarrei na mão que ela levou à cabeça para não fazer estragos e coloque-a em cima da sua barriga.
-Tiveste um acidente, eu encontrei-te, dentro do carro - mordi o lábio - não te lembras de falar comigo? - perguntei.

Fechei os olhos por um bocadinho - Mais ou menos.. lembro-me de algumas coisas.. - abri os olhos e mordi o lábio - Estavas a chorar..[b]

Revirei os olhos por ela se lembrar que eu tinha chorado. Claro que se lembrava. Kevin Grant a chorar, isso só aconteceu uma vez à pouco tempo e não conta porque estava completamente drogado.
-És demasiado importante para mim. - acariciei-lhe a bochecha.

Toquei-lhe no nariz - Não revires os olhos. - apertei a mão dele e sorri com o que ele disse - Estou aqui não estou? Já está tudo bem. - olhei-o e voltei a sorrir - Os meus pais.. estiveram cá?

-Eu sei, eu sabia que ia estar - sorri, mas a verdade é que só soube que ia estar quando me mandaram entrar neste quarto. - Sim, e a tua irmã também, estivemos a falar que nós os dois vamos ter filhos e a princesa vai-se chamar Lillian, foi ela que deu a ideia.

Ri-me com o que ele disse mas tive de parar que aquilo fazia-me doer mais a cabeça - Lillian? Ai aquela rapariga não existe. E tu disseste que era um dia ou que quando ela não tivesse à espera tinhamos-lhe realizado o sonho. - abanei a cabeça - Vais deixa-la cheia de esperanças e ela acredita mesmo nisso.

Encolhi os ombros - Sim foi mais ou menos isso - ri-me passando a mão pelo seu cabelo e espalhando-o sobre a almofada. - E porque é que tu também não acreditas? - perguntei.

Sorri quando ele passou a mão pelo meu cabelo e suspirei com a pergunta dele, olhando-o nos olhos - Porque tu me pediste para não me apaixonar por ti. Tudo o que lhe dizes tem a ver com isso.. se não me posso apaixonar por ti não posso acreditar..

-Sim, mas eu posso-me apaixonar por ti - olhei para ela e abanei a cabeça encostando-a à almofada. - É, tens razão. - passei a mão pelo seu braço e ombro.

- Isso é injusto, sabes? Poderes apaixonares-te por mim mas eu não. - agarrei na mão dele que estava a passar pelo meu braço e entrelacei os nossos dedos - E este é um dos momentos em que eu odeio o facto de ter sempre razão..

Suspirei beijando-lhe a cabeça apesar de lhe ter beijado a ligadura e apertei-lhe levemente a mão.
-Não vamos falar disso, apenas... recupera forças porque amanhã a tua irmã não te vai deixar em paz. - sorri - ela só foi embora porque os pais a levaram. - lembrei-me do que ela me tinha dito sobre tyler mas mantive-me calado.

- Está bem.. - disse baixinho. Ri-me quando ele falou da Lilly - Ela não se vai calar com a conversa dos bebés. - suspirei - Coitadinha.. ela quer sempre ficar comigo..

-E nós vamos atura-la - sorri olhando-a quando disse "sempre" - Ela contou-me - acabei por dizer - o que o Tyler te fez. Ela sabe. - passei as mãos pelos seus ombros - ah e não digas aos teus pais que ela sabe, ela pediu-me. Oh meu deus, fiz m****. - bati com a cabeça no ferro da cama e abanei a cabeça.

- Sim. - disse rindo. Calei-me quando ele disse 'ela contou-me'. Engoli me seco quando ele falou do Tyler e fiz com que ele parasse de bater com a cabeça - Não faz mal. Não fizeste m****.. eu sabia.. eu sempre soube que ela tinha percebido o que se passava apesar de ser pequenina..

-É mesmo verdade? O que ela disse? - perguntei olhando-a - ele... bateu-te? - engoli em seco - Com quem ias no carro Ruby? Não estava lá ninguém quando te encontrei. - perguntei.

Respirei fundo antes de assentir - Sim.. três vezes.. mas a última foi a mais grave.. - deitei-me de lado e olhei para ele, pedindo-lhe com o olhar para se vir deitar ao pé de mim - Foi ele.. ele estava na feira e pediu-me para falar comigo.. eu só queria acabar com isto de uma vez por todas.. ele tem andando a seguir-me e eu só queria que acabasse.. mas ele deixou-me sozinha a morrer outra vez..

Deitei-me com ela tal como me pediu e ajeitei-lhe a almofada para não estar torta. Suspirei com a história dela e abanei a cabeça.
-Podias ter-me dito - disse beijando-lhe o queixo - se ela era perigoso podias ter-me contado.

Cheguei-me mais para ele quando se deitou ao meu lado e encostei a cara ao peito dele - Não te queria preocupar e não era nada de mais.. ele só me ligava e andava a tentar descobrir onde eu estava.

-Pois, agora vê-se até onde ele te levou - suspirei passando a mão pelo seu cabelo e mordi o lábio - Se ele aparecer outra vez , diz-me.

- Não faz mal.. - disse baixinho. Fechei os olhos e deixei-me estar encostada a ele, a cheirá-lo e a senti-lo - Está bem eu digo, mas isso não vai acontecer.

-Faz sim - suspirei beijando-lhe a testa e encostando-a a mim - quando eu fiz dezassete anos a minha prenda foi um carro, eu tinha acabado de tirar a carta e eu sempre gostei de velocidade. Um dia puxei a minha namorada para o centro comercial para ir ver um filme e o meu irmão colou-se a nós. A estrada estava vazia por isso, porque é que não podia andar um bocadinho mais rápido? - olhei-a engolindo em seco - Não chegámos a ver o filme, eu estive nove meses em coma, mas eles morreram, nem sequer.. nem a um funeral fui. - abanei a cabeça. -Por isso faz mal. - assenti - podes só estar aqui uma semana ou duas, mas ele fez-te perder essas semanas.

Fiquei calada enquanto ele contava o que se tinha passado. Coloquei o braço à volta do corpo dele e abracei-o com força enquanto lhe dava beijinhos no maxilar - Kev desculpa.. não tinhas de contar.. oh meu deus.. agora percebo porque é que não querias contar.. - voltei a enterrar a cara no peito dele - Ele não me vai fazer mais mal.