Centro de Saúde

É, mas quando já não estou já é na boa. Assenti com a cabeça e por momentos passei em desistir de lhe fazer perguntas, mas lembrei-me de algo e apesar de saber que não ia gostar da resposta olhei-a.
-Não sentes nada por mim?

Claro que ele tinha de fazer aquela pergunta. Suspirei e apertei os lençóis - Eu.. não sei.. és familiar e sinto que há qualquer coisa entre nós mas não sei bem o quê..

-hm... - foi apenas o que consegui dizer e decidi que chegava por hoje. Abanei a cabeça afundando-me no sofá e ajeitei Lilly no meu colo ajeitando-lhe a roupinha para ficar confortável e as mantas.

- Desculpa.. - pedi baixinho e sinceramente - Eu gostava de me lembrar. Pareces boa pessoa, a maneira como tomas conta dela e tudo o que estás a fazer.. quem me dera lembrar..

-Eu sei - disse dando festinhas a Lilly. - Vais acabar por lembrar - levantei-me com ela ao colo - eu só espero é que não seja tarde demais. - deitei-a novamente na cama e fui até Ruby beijando-lhe a testa demorando algum tempo encostando a cabeça à dela desviando a minha boca da dela e dando-lhe mais um na bochecha enquanto a segurava. - eu ja venho. - disse afastando-me e saindo.

Fechei os olhos e controlei-me para não o beijar. Do Tyler só queria fugir aos beijos mas com ele eu queria mais. Tapei a Lilly com o cobertor e assenti - Não te preocupes.

Fechei a porta atrás de mim e voltei a ir para a sala e espera mesmo ao lado, apoiando as mãos nos joelhos olhando para o chão. Eu tinha prometido a Lilly, mas o que é que eu podia fazer? Os médicos... Encostei a cabeça à parede e respirei fundo voltando para o quarto. Sentei-me na cama e tirei a ligadura do braço que estava pior, mostrando-lhe.

Suspirei e fiquei a brincar com as mantas. Quando ele voltou para o quarto, olhei-o e vi-o a tirar as ligaduras dos braços. Senti uma pancada na cabeça e fechei os olhos, cerrando os dentes. A única coisa que me veio à cabeça foi uma rua e montes de sangue. Respirei fundo várias vezes enquanto tentava que a dor passasse - Cortaste-te em casa? - perguntei baixinho.

Dei-lhe uma festinha na bochecha quando percebi que estava com dores e aproximei-me dela. Semicerrei os olhos abanando a cabeça.
-Em casa? Não...

Encostei a cara à mão dele e olhei-o - Numa rua? - perguntei enquanto olhava para os olhos dele. Eram simplesmente lindos e se ele me respondesse que não, desistia. Não havia nada que me fizesse lembrar do que me tinha acontecido num futuro próximo.

Assenti com a cabeça quando me perguntou se tinha sido numa rua.
-Sim - disse baixinho passando ao de leve o meu dedo pela cicatriz ainda meio em ferida que doía um bocadinho, mas nada demais.

- E eu encontrei-te? - suspirei e passei ao de leve o dedo pela ferida que ele tinha ao longo do braço. Apetecia-me agarrar-me a ele e abraçá-lo mas fiquei só a olhá-lo e a morder o lábio, um hábito que tinha.

Deixei que tocasse na ferida arrepiando-me todo e toquei-lhe com a outra mão no seu lábio.
-Duas vezes. - disse baixinho.

- Duas vezes? Não me digas que foi assim que nos conhecemos. - ri-me e parei de o fazer quando olhei para baixo, no momento em que ele me tocou no lábio. Voltei a levantar o olhar para ele e deixei a mão pousada no braço dele - Tenho lábios de pato. - disse de repente.

Assenti sorrindo mais.
-Por acaso foi, pelo menos alguma coisa - toquei-lhe no maxilar e depois novamente nos lábios rindo-me. - Continuas parvinha.

Ri-me e mordi-lhe sem força o dedo que me tocava nos lábios - É verdade. Já me viste a fazer beicinho? É horrivel. Uma visão simplesmente horrivel.

-Não é nada - abanei a cabeça passando os dedos pelos seu braço até agarrar na sua mão. - Põe - pedi - por favor. - mordi o lábio porque estava a fazer-me impressão estar a ver aquilo. Só me queria esquecer do que sentia quando o fiz.

- Está bem. - peguei nas ligaduras mas antes de lhas meter, dei um beijinho nas cicatrizes dos dois braços. Enrolei as duas ligaduras e assim que estava, olhei-o sorrindo.

-Nós chateamo-nos e eu não tenho ninguém além de ti. - expliquei-lhe para ver se ela se lembrava e se não se lembrasse pelo menos ficava a saber.

- Porque é que nos chateámos? - perguntei enquanto me tentava lembrar - De certeza que tens.. a tua família, os teus amigos?

Olhei os pais dele, mas como não gostava daquela mulher foquei apenas o meu olhar no pai de Jack.
- Vão passar cá o dia? - perguntei baixinho. Queria estar só com ele, apesar de não os poder obrigar a nada, e além do mais tinha de falar com ele sobre Kev.

Voltei a negar com a cabeça quando falou dos amigos e família. Agora poderia dizer que tinha a Sam, mas apesar de ser a minha melhor amiga ela não ia conseguir conciliar-me a mim ou ao Jack, porque estava mais que visto que ele não ia ceder.
-Porque... por causa do Tyler - disse apenas - eu não te vou explicar, não precisas de te sentir pressionada mas precisas de ser tu a lembrar-te.

Suspirei e encostei-me para trás - Eu quero lembrar-me.. é horrivel sentir que me falta parte da minha vida. Quero voltar ao que era antes. Quero lembrar-me... - repeti e suspirei.

-Tem calma, - pedi agarrando-lhe nas mãos - quanto mais descontraída estiveres melhor é - disse, pelo menos comigo resultava. - eu sei que é mau. - beijei-lhe a testa.

Assenti e fechei os olhos quando me beijou a testa. Deixei-me estar assim e suspirei - Se eu não me lembrar.. vais deixar de me amar?

Abanei logo a cabeça com a sua pergunta e só me apeteceu beija-la, mas não o fiz.
-Não, não, não. - disse muito repetidamente - eu amo-te, isso não vai desaparecer só por um acidente.

Mordi o lábio para afastar as lágrimas e olhei-o sorrindo ligeiramente - Eu quero lembrar-me e.. não quero que deixes de me amar.. é egoista mas é a verdade..

Assenti enquanto lhe segurava as bochechas.
-Eu sei, mas eu não vou nem quero esquecer-te. Foste a melhor coisa que me aconteceu.

Olhei para Jason.
-Eu só consigo estar cá demanhã - suspirou. - mas volto à noite, quero ve-lo nem que seja uma hora - revirei os olhos, estavam a falar como se eu não estivesse ali.
-Eu fico cá o dia todo, claro - disse a pavonear-se toda a gaja.

Olhei-o sorrindo e cheguei-me para ele, encostando a testa ao peito dele - Isso é bom de ouvir. - voltei a sorrir. Afastei-me quando ouvi um barulhinho ao lado e ri-me ao ver a Lilly a espreitar pela manta e a dizer awww - Tens estado acordada não tens? - ela disse que sim com um sorriso gigante.