Ponte

Depois de comer o que tinha pedido fui até ao meu quarto arrumar tudo o que tinha e quando saí já era mais que horas para dormir, mas não tinha sono por isso fui dar um passeio pela zona do camp, parando numa ponte não conseguindo evitar pensar nos comprimidos que não tinha e não conseguia arranjar em prescrição, prescrição essa que não ia arranjar tão cedo.

Assim que finalmente consegui sair daquele bar paralisei ao não ver a rua vazia, não havia sinal de Kev.
- Kev? - gritei ouvindo apenas o eco que a minha voz fazia. Passei as mãos pelo cabelo e comecei a correr pela rua, tentando encontrá-lo.- Kev? - fui gritando rezando para que ele me ouvisse. A minha respiração já estava mais que ofegante e eu estava prestes a desistir e chamar a polícia quando vi uma silhueta igualzinha à de Kevin, numa ponte ao longe.- Kev! - gritei, correndo o mais depressa que pude para lá. Era ele, ai obrigada.- Kev.- respirei fundo, colocando uma mão sobre o seu ombro.- fogo meu, porque é que fugiste? E não digas que sou um palhaço porque se não quem te põe o nariz vermelho sou eu.- tentei regularizar a respiração.

Olhei para o rio que passava por baixo da ponte em questava e comecei a ouvir gritos, como não era o meu nome nem sequer conhecia a voz nem liguei até que senti uma mão no ombro que me fez virar de repente. Era uma rapariga com o cabelo grande e preto e uns olhos que pelo menos com a pouca luz que havia pareciam castanhos muito escuros.
-Am... - tentei reagir - eu acho que te enganaste - murmurei olhando-a. - Tenho a certeza que o meu nome não é Kev.

Revirei os olhos exageradamente quando Kevin começou com a história de ele não ser ele.
- Estás mesmo mocado, nunca mais tomas nada.- resmunguei, batendo-lhe no peito. Torci os olhos quando ele continuou a insistir e dei-lhe uma chapada na testa.- e eu tenho a certeza de que não tenho ''estúpida'' escrito na testa.- mostrei-lhe a minha tatuagem da cruz, o quié? Ele estava mocado, mas dava cabo da paciência de qualquer um.- anda, vamos sentar-se que eu não gosto muito de te ver tão perto da água, sabe-se lá o que fazes nesse estado.- agarrei-lhe na mão e tentei puxá-lo.- estás mais gordo do que há bocado ou é impressão minha? - fogo, os pés pareciam estar colados ao chão.

-Desculpa? - fiz uma careta - eu acho que aqui a mocada és tu - olhei para a mão dela que tinha acabado de bater no meu peito e depois para a sua tatuagem. - Oh miúda... - levantei uma sobrancelha, eu estava habituado a que gozessem comigo mas esta parecia que estava a fazer a sério - o que é que eu faria? - acabei por me rir. Arregalei os olhos e olhei para mim - estás a chamar-me de gordo? - perguntei.

- Estás desculpado.- encolhi os ombros, enquanto continuava ali a tentar fazê-lo mexer-se. Semicerrei os olhos quando ele me chamou de miúda e virei-me para ele toda furiosa.- odeio que me chamem de miúda.- resmunguei e apertei-lhe a pontinha do nariz.- vá lá Kevin, mexe-te.- puxei-lhe agora a camisola.- estou.- encolhi os ombros e ri-me.

Tirei a mão dela do meu nariz e revirei os olhos.
-Eu já te disse que não me chamo Kev! - disse largando-me dela e começando a andar ponte a baixo. Parei olhando-a - e eu não gordo - resmunguei.

Meu, ele estava estranho. Estava demasiado resmungão para quem estava mocado.
- Então como é que te chamas, vá diz lá.- revirei os olhos e corri atrás dele quando se lembrou de começar a caminhar.- não vás embora.- resmunguei.

Revirei os olhos quando a vi vir atrás de mim e olhei-a.
-Chamo-me Jackson, problemas?- perguntei olhando-a - vou sim, não estou para aturar MIUDAS mocadas. - disse-lhe metendo as mãos nos bolsos. Ainda por cima chamou-me gordo. Olhei para a minha barriga.

Comecei a rir-me que nem uma tola quando me disse o nome dele mas respirei para falar.
- Não desculpa Jackie é muito melhor, depois já que não és o Kev dizes que és o Jackie Chan e fazes golpes todos marados.- agarrei-me à barriga. Praguejei baixinho quando me chamou de miúda e dei-lhe com a mala, como fazem as velhinhas.- não me chames miúda.- resmunguei.

Virei-me para ela enquanto se ria e coloquei as mãos nos bolsos, acho que já não estava habituado a que gozasse comigo, mas por isso era melhor voltar a habiturar-me.
-Pois, está bem, mas o meu nome é Jack está bem? Não me chamo Kev nem sei lá quem - disse virando costas novamente.

Mas que caralhinho é que se estava a passar? Eu juro que aquele gajo não parecia nada o Kev, mas por outro lado era igualzinho a ele. Eu não percebia.
- Ei, espera! - corri atrás dele, agarrando no seu braço.- desculpa, se calhar confundi-te.- fiz uma careta. Mas eles eram iguais.- sou a Sam.- parei à sua frente e estendi-lhe a minha mão.

Olhei para a mão que agarrava no meu braço e olhei-a.
-Tu é que estás confundida - respondi-lhe ao seu pedido de desculpas e fiz com que ela me largasse cruzando os braços a olha-la. - Já disse quem sou - disse para não repetir o meu nome e apertei-lhe a mão.

Larguei-o assim que ele fez com que eu o fizesse e suspirei.
- Sim, talvez seja mesmo eu que estou confundida.- encolhi os ombros. Apertei a sua mão e mordi o lábio.- sim, prazer Jackson.- eu já estava farta de confusões, se ele era o Jackson, não havia nada mais a teimar.

Olhei-a com os braços novamente cruzados.
-Porque é que me chamaste Kev? - perguntei, agora estava curioso para saber porquê. - Prazer não... - fiz uma careta sorrindo levemente.

Passei as mãos pelo cabelo e suspirei.
- Porque estava agora mesmo com um rapaz que era igualzinho a ti, e ele desapareceu.- encolhi ombros.- pronto, muito gosto em conhecer-te Jackson.- corrigi, rindo-me levemente.

Levantei uma sobrancelha com o que ela disse, ou tinha que estar muito mocada ou eu tinha um irmão gémeo e não sabia. Fiz uma careta, porque eu nem sequer sabia da minha familia logo podia ser verdade, mas muito pouco provavel, só a ideia fazia-me rir.
-Igualmente - ri-me levamente. - era igualzinho como? Trazia a mesma roupa vestida que eu? - perguntei.

- E depois as taradas somos nós.- revirei os olhos com um sorriso e olhei-o com atenção, observando a sua roupa.- não, ele não vestia o mesmo que tu.- abanei a cabeça.- mas vocês são iguais, juro, e eu não bebi nem fumei nada.- murmurei.- até são os dois igualmente sexy's.- arregalei os olhos.

-Nunca disse que as taradas eram "vocês" - fiz aspas com os dedos sorrindo e observando-a a olhar a minha roupa - pois, bem me parecia. Como é que podemos ser iguais? - perguntei - onde é que ele estava? Tens a certeza que nem te drogaram? - ri-me levemente.- obrigado. - disse muito sério.

- E ainda bem, porque não ias ter razão.- pisquei-lhe o olho e ri-me levemente.- não sei, mas eram ou são mesmo iguais.- murmurei confusa.- eu estava com ele no bar, mas depois ele fugiu.- engoli em seco, a culpa tinha sido minha.- sim, de certeza que não me drogaram, eu não sou assim tão descuidada.- resmunguei com um encolher de ombros.- de nada.

-Isso é estranho - disse com o coração a bater muito rápido. Eu não conhecia a minha familia, seria mesmo possivel eu ter um irmão gémeo? Então porque é que tinham ficado com ele e não comigo, ou porque é que não o deram a ele também? - Ele fugiu de ti? - perguntei e apesar de não me apetecer ri-me.

- Tu..tens algum irmão? - perguntei, tocando-lhe no braço. Era a única explicação para eles serem a fotocópia um do outro. E eu juro que não me droguei, juro. Olhei-o atenta e revirei os olhos quando se riu.- sim.- resmunguei.- ele drogou-se e estava tão mal que eu pedi-lhe que ficasse parado e ele fugiu.- murmurei.- e a culpa é minha.- olhei o rio.

Encolhi os ombros ao que ela me disse e comecei a andar devagarinho evitando toques- Não sei, sou adoptado mas provavelmente não, se não porque é que eu era o afastado? - perguntei olhando-a. - Ainda por cima é drogado? - fiz uma careta - a culpa não é a tua, a culpa é dele que se drogou.

Suspirei quando o senti afastar-se e evitar contacto e passei a mão pelo cabelo. Eu era assim tão assustadora? - és adoptado? - arregalei ligeiramente os olhos.- pois, não sei.- encolhi os ombros e desviei o meu olhar do seu, já que ele não queria proximidade.- ele não é drogado, ele estava a precisar e eu..pronto, incentivei-o.- murmurei.- e a culpa é minha, porque se eu não tivesse dito nada, ele não tinha tomado aquela porcaria.- encolhi os ombros com um suspiro.

-Sou - respondi assentindo à sua pergunta - não é não sei, é verdade... se... - engoli em seco - se isso aconteceu é porque os meus pais verdadeiros não valem nada. - e isso também o inclui - Ele só tomou porque quis - disse-lhe encolhendo os ombros - não há desculpa.

Suspirei. Não devia ser fácil descobrir-mos que para além de sermos adoptados muito provavelmente tínhamos um irmão gémeo. Olhei para ele e mordi o lábio, algo hesitante.- mas...eu sei que nada justifica o que eles te fizeram, mas já tentaste saber o porquê? - perguntei calmamente.- pois, talvez tenhas razão.- suspirei. Mas eu não deixo de me sentir culpada, acrescentei mentalmente.

Olhei-a vendo-a morder o lábio toda nervosa. Abanei a cabeça à sua pergunta - não. Não os conheço, não quero conhecê-los e apesar disso, não os encontro, estão incontactáveis, só sei que sou Grant - encolhi os ombros - existem tantos Grants - desviei o olhar - os principais são ricos, porque é que eles com dinheiro fizeram isso? nao me parece que sejam ricos... - olhei-a novamente, eu estava a falar muito hoje. - pois tenho.

Arregalei os olhos, eles eram mesmo irmãos, tinha quase a certeza. E agora? Eu nem queria imaginar como é que o Kev ia ficar quando soubesse.- ele também é Grant...- murmurei.- não sei Jackie, as pessoas às vezes fazem coisas que mais tarde se arrependem.- suspirei.- pode ser que um dia os encontres e consigas perceber o porquê..- olhei o rio.

Virei-me bruscamente para ela quando disse que ele também era Grant e tive medo que perdesse totalmente o controlo de mim, mas o comprimido ainda devia estar a fazer efeito.
-Ele também? - perguntei quase com falta de ar - não, eu não quero encontrar. - abanei a cabeça e fui andando para trás enquanto a olhava.