Jardim

- Ai a minha companhia é irritante? - resmunguei, mordendo-lhe o dedo. Assenti e agarrei no seu braço, puxando-o para fora do bar e depois para fora do camp.- vamos passear.- sorri e caminhei a seu lado até que, passado algum tempo, chegámos a um jardim perto do camp.

-Estava a brincar - queixei-me quando ela me mordeu e olhei para o meu dedo quando vi o jardim onde tinhamos chegado olhei em volta - que seca, estou com inspiração e não consigo expressa-la - suspirei olhando em volta.

Suspirei e dei-lhe um beijinho no beijo, no sítio onde mordera.
- Pronto, não reclames mais.- resmunguei e sentei-me no meio do jardim.- das duas uma, ou desenhas, ou pintas.- encolhi os ombros.

-Acho bem - ri-me quando me beijou o dedo e fui-me sentar ao lado dela. Voltei a olhar em volta e respirei fundo meio aborrecido, não com ela, mas pelo facto de não conseguir expressar-me.
-Eu sei, mas onde é que está o papel? - perguntei - ou as tintas? - suspirei - sei que se for para o quarto isto passa.

- Como se tivesses direito a achar alguma coisa tu.- resmunguei com um revirar de olhos. Ri-me baixinho quando o ouvi suspirar aborrecido e olhei em volta relembrado todos os cantos daquele jardim, sim, eu já sabia da sua existência.- não vamos nada para o teu quarto.- murmurei, levantando-me.- é muito mais interessante criar no exterior.- disse enquanto me dirigia para a minha mala que pousara no banco. Abri a mesma e retirei de lá o meu caderno de desenho, os meus lápis e depois as minhas latas de tinta spray para pintar.- satisfeito?

-Claro que é mais interessante mas não tenho... - vi-a a ir à mala e sorri como uma criança quando lhe dão um brinquedo quando ela me mostrou as tinta de spray - eu amo-te - gozei indo até ela e espetando-lhe um beijo na boca agarrando nas tintas e indo a correr à busca da parede certa.

Ri-me com o seu sorriso e mordi-lhe o lábio quando me espetou um beijo.
- É, eu também, estou à espera do pedido de casamento por isso vê se não demoras.- gozei. Olhei-o à procura de uma parede e fui até ele.- está aqui uma perfeita.- murmurei, agarrando na sua mão para puxá-lo. Andámos uns cinco passos e lá estávamos nós diante da grande e completamente branca tela.

Fui com ela quando me puxou e sorri quando vi a parede perfeita para começar.
-És tão feia - falei para a parede e assim que me larguei de Sam comecei a desenhar livremente. Eu não gostava daqueles graffitis todos manhosos por isso comecei a fazer algo com significado que foi dar ao anti-racismo.

Ri-me audivelmente quando o ouvi falar para a parede e baixei-me para pegar numa lata de tinta, agitando-a. Odiava aqueles graffitis ranhosos, mas para dizer a verdade também não sabia muito bem o que desenhar. Soltei alguns suspiros enquanto olhava para aquela parede demasiado branca e encolhi os ombros ao surgir algo na minha cabeça. Apesar de não ter muita certeza, acabei por desenhar a minha tatuagem das costas.

Olhei para ela a desenhar a sua tatuagem e sorri levemente afastando-me quando já estava tudo pronto, ao fim de duas horas de trabalho.
-Agora vamos bazar que não quero problemas com a polícia. - fiz uma careta.

Fui trocando de tintas sempre que necessário e acabei por fazer uma pequena pausa para apanhar o cabelo, que me começava a atrapalhar, com um dos lápis que trouxera. Ao fim de algumas horas e de ter as mãos todas borratadas, tinha o desenho pronto. Recuei uns passos e de mãos assentes na cintura, deixei-me ficar a observá-lo. Não estava muito mal, mas continuava a achar que podia estar melhor. Olhei para Kevin e assenti, rindo levemente.- és mesmo maricas tu.- abanei a cabeça enquanto começava a arrumar as minhas coisas na mala.

-Não me apetece mais confusões está bem? - perguntei com um suspiro ajudando a arruma-la e olhei para as minhas mãos todas sujas, boa. A sorte é que eu tinha tirado a t-shirt porque os calções também estavam todos sujos. Mesmo assim, meti as mãos dentro dos bolsos das calças depois de ter prendido a t-shirt e comecei a andar por aí.

Juro que odiava quando ele suspirava.
- Mais? - olhei-o atenta.- mas sim, eu também dispenso.- encolhi os ombros e fechei a mala quando já estava lá tudo dentro de novo. Passei as mãos pela t-shirt e encolhi os ombros, já estava suja e já. Soprei para tirar o cabelo da frente dos olhos e segui-o, um pouco mais atrás, colocando a mala ao ombro.- podes esperar por mim? - resmunguei.

-Sim mais - não adiantei muito ficando calado enquanto andava devagar. - calma, ainda estou aqui - disse levando as mãos ao ar e olhando-a. Abanei a cabeça por ela estar toda porca e ri-me - Tens que tomar outro banho. - se bem que eu não podia falar muito.

Assenti não insistindo mais pois sabia como era falar sem se ter vontade de o fazer. Revirei os olhos quando ele disse que eu precisava de outro banho e dei-lhe um leve empurrão, olhando-o de alto a baixo e rindo algo maléfica.- olha quem fala seu porco.

-Mas eu já sou porco de nascença - brinque agarrando-lhe na cintura e puxando-a para mim - obrigado pelo dia Sam, não me vou esquecer - fiz uma careta - também não conseguia esquecer - encolhi os ombros.

Encostei a cabeça ao seu peito quando me puxou para ele e sorri levemente.
- Não tens de agradecer.- encolhi os ombros.- foi apenas um dia, mas eu também não o vou esquecer.- assegurei, pois era mesmo verdade. Fiquei a pensar durante um bocado nas suas palavras e depois olhei-o.- não consegues esquecer?- ergui uma sobrancelha.

Abanei a cabeça com a sua pergunta sem saber se ela ia compreender.
-Nada. - fiz uma careta - eu sei... é estranho - encolhi os ombros - isso tem um nome que nem eu me lembro. Por isso é que eu sei o nome de todas as raparigas que li a ficha - ri-me levemente.

Olhei-o com atenção enquanto ele falava e fiz uma pequena careta.
- Eu sabia o nome disso.- estalei os dedos como se estivesse à espera que a palavra aparecesse. Sim, apesar de ter este meu aspecto e contrariamente ao que todos pensavam, eu lia livros e pesquisava sobre as coisas.- então agora já não és tão stalker como eu pensava.- dei-lhe um beijinho no peito e ri-me.

-Hipermenésia - olhei-a e fiz uma careta com o meu pensamento - será que se eu bater com a cabeça muitas vezes fico amnésico? - perguntei mais para o ar do que para um de nós. Queria tanto ficar amnésico. - Eu disse-te logo que não era. - ri-me.

- Isso! - revirei ligeiramente os olhos, porque as palavras nunca surgiam quando eu precisava delas. Ergui uma sobrancelha e bati-lhe com a palma da mão na testa.- não sejas parvo.- resmunguei levemente.- eu sei que não deve ser muito bom lembrares-te sempre das coisas, mas acredita que esqueceres-te delas também não é muito melhor.- fiz uma careta.- pensa que pelo menos assim nunca te esqueces da minha pessoa.- sorri convencida.

-Claro - ri-me tocando-lhe no queixo por causa daquele sorriso convencido - Esquecer-te delas é muito melhor, acredita - fiz uma careta - imagina que tens o mesmo que eu lembraste-te tudo desde os teus quatro anos e... - esforcei-me para pensar numa coisa disparatada - a tua avó é assassinada mesmo à tua frente quando tu eras miúda. Isso não se esquece, está bem, mas com isto tens os detalhes todos. - resmunguei.

Baixei a cabeça de modo a dar-lhe um beijinho na mão que me tocava no queixo e sorri. Fui arregalando os olhos à medida que o ouvia falar e fiz uma careta mesmo feia.- eu sei.- suspirei.- eu sei bem o que é quereres esquecer-te das coisas e não conseguires.- ainda para mais quando tens marcas que não te deixam mesmo esquecer, acrescentei mentalmente, engolindo em seco.

-Acho que no fundo toda a gente sabe - encolhi os ombros e beijei-lhe a cabeça. - passou-se alguma coisa muito má contigo? - perguntei olhando-a de lado mordendo- a parte de dentro da minha bochecha.

Fechei os olhos enquanto recebia o seu beijinho e soltei um longo suspiro com a sua pergunta. Abri os olhos devagarinho e olhei para um lado qualquer.- depende do quão mau é...o teu pai bater-te.- encolhi os ombros.- mas ele não tem culpa.- abanei a cabeça.

Arregalei os olhos não estando à espera que ela me contasse aquilo tudo de rajada e parei olhando-a.
-Ele bate-te e não tem culpa? - perguntei fazendo-a olhar para mim.

Engoli em seco. Eu já sabia que ele ia reagir assim, mas não me arrependia de lhe ter contado esta parte, pelo menos achava eu. Apesar de ele me fazer olhá-lo, eu voltei a desviar o meu olhar, mas desta vez para o chão.- ele tem uma razão para ser assim Kev...eu não o posso culpar.- encolhi os ombros.- ele não tem mais ninguém onde descarregar.

Segurei-lhe no rosto mesmo quando ela desviou o olhar e mordi o lábio abanando a cabeça.
-Ele pode descarregar de outra maneira, não pode... simplesmente bater-te e tu aceitares - tentei chama-la à razão - ajuda-o, mas não o deixes bater-te. - fiz com que ela olhasse novamente para mim - está bem? Prometes-me isto? - perguntei.

Suspirei quando senti as suas mãos a segurarem o meu rosto, mas o meu olhar continuou baixo.
- Mas ele não tem outra maneira de descarregar Kev...- murmurei.- e não tem problema ele bater-me, não faz mal.- acabei por olhá-lo. Ele não percebia. Eu era parecida à minha mãe, a minha mãe tinha abandonado o meu pai e quando ele bebia e me via, lembrava-se dela. Mas ele não fazia por mal, eu sabia que ele não fazia por mal.- eu não te posso prometer isso Kev, tu não percebes.- abanei a cabeça.- não posso, desculpa.