Quarto da Sam Golightly

Agarrei no termómetro colocando-o debaixo do braço como ela tinha pedido e fechei os olhos enquanto aquilo não apitava. Quando o fez tirei-o dando-lho e olhei Sam.
-Obrigado - disse.

Soltei um suspiro quando ouvi o apitar do termómetro e peguei nele quando Jack mo estendeu. Passei os dedos pelo nariz e olhei o pequeno ecrã, vendo que marcava 38.5º.- vais ter de continuar a aturar-me.- ri-me levemente e molhei novamente o pano, torcendo-o e colocando-o de novo na sua testa.- e agora descansa.

-Obrigado - repeti de olhos fechados e virei-me ligeiramente para o lado para dormir um bocadinho enquanto ela podia passar o pano. - Isto já passa - disse quase a adormecer e assim que o fiz entrei num sono profundo.

- Tu voltas a agradecer e eu meto-te ainda com mais febre.- resmunguei baixinho, enquanto abanava o pano na minha mão. Voltei a colocá-lo na sua testa e vi as suas pestanas fecharam-se gradualmente até que os seus olhos se fecharam e ele adormeceu. Mordi o lábio e continuei a molhar a sua testa, aproveitando para o observar a dormir.

2 dias depois

Suspirei espreguiçando-me e agarrei-me a uma almofada, que logo percebi que era apenas Sam. Bocejei roçando o meu nariz no seu braço por causa do sono e sorri um bocadinho. Já me sentia melhor, nem havia comparação.
Olhei-a enquanto dormia e mordi a parte de dentro do lábio.

Acordei quando senti algum movimento na cama e abri apenas um olho, completamente ensonada. Vi Jack a observar-me e sorri levemente, escondendo a minha cara na almofada.
- Não me olhes assim oh.- resmunguei baixinho.- como te sentes? - perguntei abafada.

Ri-me quando ela acordou e desviei o olhar-Não estou a olhar de forma nenhum - disse sentando-me na cama e passei a mão pelo cabelo colocando-o para cima e desalinhando-o - Acho que estou bem - assenti - Acho que estou.

Olhei-o apenas com um olho, enquanto outro continuava escondido na almofada, e vi-o arranjar o cabelo.
- Tu acabaste de por esse cabelo sexy desalinhado comigo ainda num estado adormecido? - resmunguei e puxei-o para que se deitasse de novo. Deitei a minha cabeça no seu peito e puxei-o para mim, cobrindo-me até à cabeça.- claro que estás bom, eu sou uma boa enfermeira.- disse com a voz arrastada.- e sexy! - coloquei o meu indicador de fora do lençóis e apontei-lho.- mas tu és um paciente extra sexy, com cobertura de chocolate e amêndoas. - espreitei por entre os lençóis e olhei-o.- gostas de gelado?

Deixei que ela me puxasse para baixo e deitasse a cabeça no meu peito, com ela já estava habituado em apenas dois dias. Levantei uma sobrancelha quando ela me deu tantos nomes - Gosto, quem é que não gosta? - perguntei rindo-me.

Apoiei o meu queixo no seu peito e fechei os olhos, encolhendo ligeiramente os ombros.
- Eu sei lá.- abri um olho.- aquelas miúdas todas cheias de mania de que o gelado engorda não devem gostar.- voltei a fechar o olho e puxei o lençol até este me tapar a cabeça, tipo as freiras. Coloquei-o atrás das orelhas e juntei as mãos, como se estivesse a rezar.- abençoado sejas tu meu rapaz, que tal como eu gostas de um bom gelado.- tentei não me rir. Eu de manhã não funcionava muito bem.- garanto-te que terás a tua passagem para o céuzinho garantida, mas pagas o bilhete com visa que eu não tenho troco.- deitei a minha cabeça no seu peito de novo.- amén.

Continuei a rir durante mais algum tempo enquanto ela só dizia barbaridades.
-Andaste a beber e ainda não estás de ressaca ou apenas és sempre assim de manhã? - perguntei passando as mãos pelas costas dela.

Mordi o lábio com a sua pergunta e comecei a rir-me.
- Acho que é mais a segunda opção.- senti-me arrepiar.- eu não bebo.- murmurei, sentindo-me acordar só de ouvir falar em álcool. Soltei um pequeno suspiro e comecei a fazer desenhos imaginários sobre o seu peito.- de certeza que estás melhor? Não me mintas.

-Fazes bem - disse mexendo-lhe no cabelo quando ela disse que não bebia - Estou óptimo - disse - já consigo abrir os olhos e quero sair da cama - sorri levemente olhando para o tecto e tirei as mantas de cima da cara dela tirando-lhe também o cabelo de lá.

Assenti encolhendo os olhos e continuei de olhos fechados com as suas festinhas. Mordi-lhe levemente a mão que me tirava o cabelo da cara e olhei-o.
- Então vamos fazer alguma coisa.- sorri, dando um beijinho no seu peito, depois no seu pescoço, subindo para o seu queixo e parando na sua bochecha.- e mesmo que não queiras a minha companhia, temos pena.- ri-me baixinho.

Senti o meu coração acelerar com os beijinhos que ela me deu a partir do peito até parar na minha bochecha, engasguei-me no último tossicando e quando me recompûs pestanejei -Eu quero a tua companhia, mas tens que ser tu a escolher o sítio onde ir - disse olhando para o tecto.

Ergui uma sobrancelha ao ver o estado em que ficara com os meus beijinhos e olhei-o, de lado.
- Estás bem? - murmurei.- está bem eu escolho, mas olha para mim.- pedi e virei a sua cara para o lado da minha, olhando os seus olhos que estavam neste momento muito próximos.- tens a certeza que estás bem?

Assenti com a cabeça à sua primeira pergunta.
-Estou óptimo - os teus beijos são óptimo. acrescentei mentalmente mas não disse nada. Olhei-a quando me pediu e assenti - eu estou bem - garanti-lhe.

Assenti e esbocei um pequeno sorriso, roçando o meu nariz no seu, só esperando não abusar.
- Então, e diz-me mais ao menos o que queres fazer.- fiz um beicinho.- queres ir simplesmente passear? - mordi o lábio e olhei os seus olhos azuis. Quando estava meio perdida no seu olhar lembrei-me da parede que eu e Kev tínhamos pintado.- se quiseres posso ir mostrar-te uma pintura e depois podíamos...ir comer um gelado.- encolhi ligeiramente os ombros.- ai espera, secalhar não, estivete doente.- mordi o lábio.- não faz mal, vamos só passear.

Passei a mão pela cana do meu nariz rindo-me.
-Tu és totó - disse-lhe - vamos fazer o que quiseres e comer um gelado - encolhi os ombros olhando para ela - fixe?

Revirei os olhos quando vi rir-se de mim e estiquei-me, mordendo-lhe a bochecha.
- Eu não sou tótó oh jackie chan.- resmunguei baixinho e assenti ao que ele disse, apesar de que pronto, eu estava preocupada com ele.- fixe.- ri-me contra a sua bochecha.

Sorri para ela e sentei-me na cama. Tanta.. tanta proximidade. Mordi o lábio ainda de costas para ela e levantei-me devagar vestindo a minha t-shirt e os meus calções. Passei a mão pelo meu cabelo novamente para o desalinhar e olhei-a. - Vamos, eu pago os gelados - disse ignorando quaisquer resmunguices.

Afastei-me quando vi que ele se ia levantar e levantei-me também, indo até ao armário. Retirei uma camisola e uns calções do mesmo e olhei-o.- eu vou só vestir-me.- murmurei e revirei os olhos enquanto ia até à casa de banho.- pagas o rabinho é que pagas.- resmunguei e fechei a porta atrás de mim. Tomei um duche rápido e vesti-me, saindo já arranjada.

Olhei para Sam quando já estava arranjada e desviei o olhar para o relógio.
-Vamos, quero estar aqui antes de anoitecer - meti as mãos nos bolsos e lembrei-me que precisa de ir ao médico buscar a receita. Passei as mãos pelas testas e olhei-a, se acontecia alguma coisa ao lado dela...

Passei as mãos pelo cabelo e aproximei-me dele, agarrando-me ao seu braço.
- Vamos lá oh apressado.- ri-me levemente e puxei-o para fora do quarto.- vou mostrar-te a minha obra de arte com o Kev.- sorri levemente enquanto saíamos do camp.- ele desenha mais ou menos (muahahaha .l.) mas eu desenho muito bem, por isso vais adorar o meu desenho.- disse convencida.

Depois de passar pelo meu quarto para encher uma mochila com roupa, saí finalmente do camp, apanhando um táxi que me levou até ao aeroporto. Ainda bem que eu tinha poupado algum dinheiro, pois precisava dele agora. Tive de pagar mais caro do que o habitual por ser uma bilhete de emergência. Esperei apenas uma hora, e depois de ter tudo tratado, fui caminhando pela cabine até entrar no avião. A hospedeira sorriu-me amavelmente, como era o seu trabalho e eu apenas prossegui, não lhe dizendo nada. O meu estado não devia ser o melhor, por isso eu aproveitei-me disso para não ter de falar com ninguém. Sentei-me no meu lugar e encostei a cabeça no encosto e quando abri a mala para desligar o telemóvel vi dentro da mesma um papel branco. Ergui uma sobrancelha e peguei no mesmo. Quando o virei, as lágrimas voltaram a atacar-me. Era o bilhete. Era o seu bilhete. Escondi a cara por entre as mãos e levei o papel ao nariz, fechando os olhos com força e recordando o seu sabor, o seu sorriso, o seu olhar, simplesmente, recordando-o.

Suspirei indo até ao seu quarto, não a tinha apanhado e a porta estava aberta, ok... não estava, mas eu era um perito em abrir portas. Eu não sabia o que se tinha passado mas só me passava pela cabeça aquele dia em que ela apareceu no meu quarto a chorar e completamente devastada. Podia estar um pouco chateado mas eu tinha prometido que cuidava dela e se isso significava vasculhar a vida dela, que fosse.

- Menina? - senti alguém abanar-me e abri os olhos muito devagar. Quando a minha visão se focou, vi que era a hospedeira que me tocava.
- Hum? O que foi? - murmurei completamente desorientada.
- Já aterramos, preciso que saía.- ela disse e eu apenas me levantei, agarrando na minha mochila e colocando-a às costas. Saí do avião, tal como queriam, e fui andando até à saída do aeroporto. Não era muito grande, aliás, nada ali era grande coisa. Mas eu gostava, habituara-me a viver ali. Enfiei as mãos nos bolsos quando finalmente saí e comecei a andar a pé até casa, sim, eu vivia num bairro perto do aeroporto. Olhei para o céu quando ouvi o barulho de um a levantar voo e olhei o céu.
*Flashback*
- Mamã, olha um pássaro gigante! - apontei para o céu com o meu dedinho ainda pequeno na altura. Quando eu ainda era uma também pequena e indefesa criança. Arregalei os olhos quando ouvi a sua doce gargalhada mas nem por isso desviei o olhar daquele céu azul, olhando o avião.
- Não é um pássaro gigante Sami, é um avião.- ela corrigiu-me, acariciando o meu cabelo com a sua mão delicada. Olhei o seu rosto curiosa e cruzei os braços ao peito.
- Não não, é um pássaro gigante.- teimei, tal como já tinha o hábito de fazer.- tem asas e tudo.- voltei a apontar para o céu.- olha.- abri a boca, espantada.- fugiu.- fiz beicinho e olhei a minha mãe.- porque é que ele fugiu? - choraminguei. Senti os seus braços agarrem o meu corpo e aconcheguei-me neles.
- O pássaro gigante, como tu dizes, leva as pessoas para outros sítios, leva-as para longe.- ela beijou-me a bochecha.- mas depois trá-las de volta para casa. Por isso minha macaquinha, ele não fugiu, ele já volta para te fazer uma visita.- senti os seus dedos na minha barriga, fazendo-me rir com as cócegas.
* Flashback off*
- Quando é que a vais trazer de volta? - falei para o céu, com as lágrimas a escorrerem-me pelo rosto.

Uma amiga, vá lá Jackson, uma amiga que ela tenha. Ruby. Agarrei no telemóvel comecei a vasculhar os meus números, eu sei que tinha o número dela, eu sei. Vá lá. Suspirei de alívio quando finalmente o encontrei e carreguei no verde ligando-lhe.

- Vá lá.- continuei a tentar abrir a porta, com o que eu pensava ser a minha chave de casa.- olha, m**** para ti.- atirei a chave ao chão e dei a volta à casa, nas traseiras era o meu quarto. Sorri ao espreitar pela janela e ver que tudo continuava tal e qual como eu o tinha deixado. Passei as mãos pela janela e destranquei-a, sim a minha casa era tão mas tão segura que qualquer um conseguia entrar. Tirei a mochila das costas e atirei-a para cima da minha cama, que estava encostada à parede ao pé daquela janela. Passei as mãos pelo cabelo e depois apoiei-as no parapeito, fazendo força de modo a elevar o meu corpo. Comecei pelas pernas e depois de estar estarem na cama, entrei finalmente. Levantei-me sem perder mais tempo, visto que a minha cama era tão desconfortável que nem vontade tinha de me recordar de como era estar deitada nela, e saí do quarto. Ajeitei a minha roupa e no preciso momento em que elevei o meu olhar este prendeu-se no meu pai. Ele não estava sozinho. Aliás, parecia muito bem acompanhado. Ele estava no sofá, com um mulher, uma mulher, eles estavam aos beijos, ele estava a agarrá-la e a tentar tirar-lhe a roupa, e...
- Eu não acredito! - murmurei para mim, cerrando os dentes e apertando as mãos em punhos. Era simplesmente impensável o que eu estava a ver. Para que é que ele me pedira para voltar? Para que é que ele me dissera que eu era a única mulher na sua vida?- como é que foste capaz? - gritei-lhe, fazendo com que o seu olhar se desviasse da mulher para mim.
- Sam..?
- Para que é que me disseste que estavas sozinho? Porque é que me disseste que era a única mulher na tua vida? - a minha voz estava arranhada, como se a raiva me consumisse o corpo.- para que é que me fizeste abandonar o camp para vir aqui e encontrar-te com outra mulher? - apontei para a loira oxigenada.- dizes-me que estás destroçado, que não tens ninguém e depois encontro-te a foder? - respirei fundo.- eu deixei pessoas lá...deixei-as por pensar que estavas sozinho e que não tinhas mais ninguém.- mordi a parte de dentro da minha bochecha. Ele levantou-se e a cambalear, aproximou-se de mim.
- Quem é que deixaste lá, ahm? - o cheiro a álcool notava-se à distância. Ele continuava a beber, eu sabia, eu sabia que ele nunca iria parar.
- Deixei pessoas que querem cuidar de mim.

México, pai, batia-lhe.
-Oh meu deus - passei a mão pela cabeça engolindo em seco. Estava a começar e entrar em pânico, mas não podia. Agarrei na minha mala que levava tudo o que precisava, pelo menos o que tinha e comecei a correr até à praça de taxis onde apanhei um para o aeroporto e lhe pedi para ser rápido. O meu bilhete de última hora estava reservado o único problema é que tinha que esperar mais três horas.