Quarto da Sam Golightly

Assenti e voltei a fechar os olhos, tacteando muito lentamente até encontrar a sua mão. Quando a encontrei, agarrei-a sem força e tossi entre gemidos, acabando por adormecer com todo o cansaço que sentia.

Fiquei a acariciar-lhe a bochecha e a beijar a sua testa. Sinceramente, depois de tudo o que já me aconteceu com ela, apesar de nos conhecermos à pouco tempo, eu já não sabia o que sentia. Eu tinha arriscado muito por ela e não me conseguia afastar. Eu estava zangado e lixado por ela se ter ido embora, podia simplesmente dizer-lhe adeus já que agora ela estava bem, mas não, eu ia ficar ali até que ela acordasse novamente.

Abri os olhos devagarinho e suspirei de alívio por ainda estar viva. Com as dores que sentia, chegara a duvidar. Quando a minha visão se focou, vi que Jack ainda estava ali, o que me levou a sorrir. Estiquei uma mão até ao seu rosto e dedilhei o mesmo, deixando-o escorregar depois pelo seu peito.
- Desculpa...- pedi muito baixinho.

Vi-a acordar e sorri levemente quando me pediu desculpas agarrando novamente a sua mão quando caiu.
-Eu avisei a Ruby - disse-lhe - ela mandou beijinhos - sorri-lhe - e... antes ela disse-me tudo ou quase tudo.

Cheguei o meu corpo mais para junto do seu e sorri quando falou em Ruby. Espera, Ruby? Oh meu deus...
- Tu...falaste com ela? - perguntou, começando a entrar em pânico.- o que é que ela te disse? Não, ela não te disse o que eu estou a pensar pois não? Eu não quero que vás embora, ela não te pode ter dito.- abanei a cabeça várias vezes, respirando de forma descompassada.

Arregalei os olhos, parece que não devia ter dito nada.
-Tem calma - apertei a sua mão. - Está tudo bem - beijei-lhe a testa e encostei a minha à dela - Eu sei que amas o teu pai Sammy, mas estás a ver onde ele te fez chegar agora? Tu morrias se eu não tivesse aparecido.

Olhei os seus olhos com os meus muito abertos e assenti, baixando o olhar para o seu peito. Eu sabia que não devia, mas eu não conseguia deixar o meu pai.
- Eu sei...- murmurei.- eu sei que ele me faz mal, mas ele é a única família que tenho.- mordi o lábio com força.- a minha mãe deixou-nos, e....eu sou a única que lhe resta, percebes? - falei muito baixinho.

Assenti com a cabeça.
-Tu não o vais deixar, mas também não podes permitir que isto aconteça - disse-lhe a ponta do seu nariz - Eu disse que ia cuidar de ti, agora deixa-me fazê-lo.

- Mas eu não o consigo impedir, não tenho forças para isso, ele consegue sempre o que quer.- sussurrei e olhei os seus olhos dos quais eu já tinha tantas saudades. Era como se já tivessem passado anos desde que tinha fugido.- eu...eu deixo.- murmurei aproximei a minha boca da sua, beijando-o.

Segurei a sua bochecha afastando-a ligeiramente. -Ele não vai voltar a tocar-te. - disse olhando-a - mas também não vai voltar a ter-te tão perto - mordi o lábio respirando fundo - eu denunciei-o. A polícia veio falar comigo e... ajudaram-me a traduzir. - olhei os seus olhos - desculpa.

Arregalei os olhos com o que ele disse e senti o meu coração começar a bater muito depressa. Ele tinha denunciado o meu pai, ele...oh meu deus.
- Ele vai preso? - perguntei aflita.- o meu pai vai ser preso? - arregalei ainda mais os olhos.- ele não vai aguentar estar na cadeia Jack, ele já lá foi para uma vez, quando voltou estava ainda pior.- a minha voz saiu tremida.- eu tenho medo Jack, se ele descobre que foste tu..eu não...- abanei a cabeça e escondi a minha cara no seu pescoço.- eu não te quero perder.

-Shiiu - toquei-lhe nos lábios quando ouvi os apitos urgentes. - Ele não vai sair de lá tão cedo, mas isso a escolha depende de ti - mordi o lábio não sabendo muito bem qual seria a tua decisão - tens que depor contra ele. - olhei-a - Eu estive aqui para te ajudar desta vez, mas para a próxima - abanei a cabeça - sabe-se lá onde posso estar.

Arregalei os olhos com o que ele disse e sustive a respiração durante alguns segundos. Eu? Eu tinha de depor contra o meu pai? Era quase como se...a sua vida estivesse nas minhas mãos, o que na verdade, estava.
- Eu...ele vai odiar-me se eu fizer isso.- engoli em seco.- eu não quero que ele me odeie.- abanei a cabeça.- eu não quero que ele me odeie.- repeti.- se ele me odiar eu vou ficar sem ninguém.- sussurrei.

-Eu sei que é dificil - engoli em seco e suspirei fechando os olhos - mas eu só te estou a dar uma chance para não voltares para o hospital - saí de cima da cama e fui para a cadeira, sim, cadeira, não havia sofá e o que mais queria era dormir. Sentia-me tão cansado.

Passei uma mão pela cara e assenti com um suspiro.
- Eu sei, eu vou pensar está bem? - olhei-o e engoli em seco quando se afastou.- não podes ficar aqui? - perguntei baixinho.- tenho saudades de dormir contigo.- mordi o lábio.

-A cama é apertada - suspirei voltando a sentar-me e passei a mão pelo seu braço - pensa bem - disse olhando-a. - eu... eu vou pedir transferência para uma cidade perto do camp. - mordi o lábio - não posso estar aqui.

- Ah, então podes voltar para a cadeira, eu pensei que...nada, volta para a cadeira.- olhei os seus olhos e assenti.- eu vou pensar, prometo.- murmurei e ergui uma sobrancelha.- porquê? Porque é que não podes ficar aqui?

-Não, eu fico aqui - encolhi os ombos e mordi o lábio encolhendo os ombros - onde queres que eu arranje roupa ou me lave? - perguntei - e nos outros hospitais lá há mais condições.

Assenti e puxei as mantas, cobrindo-me com elas. Estava cheia de frio.
- Pois, tens razão.- mordi o lábio.- eu também prefiro ir embora daqui, ahm, este sítio traz-me lembranças que prefiro mesmo não recordar.- disse, engolindo em seco e fechei os olhos durante uns segundos.

Assenti com a cabeça e dei-lhe um beijo na mão saindo do quarto sem dizer nada. Fui falar com a secretaria do hospital sobre a mudança e eles ligaram a outra dizendo-me depois que o avião chegava à tarde e deu-me a conta. Eu paguei e voltei para perto dela.Deitei-me num canto da cabeça encostado a ela.
-Estou cansado - disse fechando os olhos.

Fiquei deitadinha quando ele saiu e aconcheguei-me nos cobertores, olhando pela janela. Estremeci quando a porta se abriu, mas respirei fundo ao ver que era apenas eles. Encostei-me a ele quando se deitou e dei-lhe beijinhos no maxilar.
- Vamos dormir, eu também estou.- bocejei.

Sorri-lhe, já sentias saudades dos beijos dela.
-Sim - murmurei de olhos fechados, parecia mais que ia desfalecer a qualquer segundo, mas quando adormeci soube muito bem.

Encostei a minha testa ao seu pescoço e fechei os olhos, chegando o meu corpo o mais que pude para o dele. Além de ter frio, tinha saudades dele. Eu não conseguia explicar, para falar verdade nem eu percebia, mas ele fazia-me falta, ele tinha-me mudado. Desde que estava com ele que não tinha sentido necessidade de estar com outra pessoa. Talvez isso fosse bom sinal. Sorri levemente e acabei por adormecer.

Fiz uma careta acordado todo torto e quase a sair. Sentei-me massajando o meu pescoço e suspirei. Estava mesmo cansado, precisava de um banho quente. Vi a enfermeira simpática a aparecer ela sorriu-me assentindo com a cabeça, o que significava que era para ir embora. Saltei de cima da cama agradecendo-lhe e não foi preciso acordar Sam, levaram a cama até ao helicópetro e mudaram-na para a maca sentando-me num canto.

Abri os olhos de repente quando ouvi um barulho ensurdecedor e arregalei-os, ao ver que já não estava no hospital.
- Onde é...- passei as mãos pela cara e olhei para a frente, vendo Jack sentado no chão.- Jackie...- falei baixinho e quando olhei para o lado, vi nuvens e o céu azul.
- Tenha calma, está apenas a ser transportada para um outro hospital.- o que parecia ser uma paramédico olhou-me e tocou-me na cara, fazendo-me gemer.
- Larga-me.- resmunguei e afastei a cara, puxando os cobertores para cima.

Levantei-me quando ela acordou e só não caí porque um médico me agarrou, estava meio zonzo, mas era por causa das alturas.
-Como é que te sentes? - perguntei passando a mão pelo seu braço.

Abri os olhos quando ouvi a voz de Jack e voltei a fechá-los ao sentir o seu toque.
- Tenho frio.- murmurei com um arrepio a percorrer-me o corpo e quando me tentei mexer, todas as minhas feridas se queixaram, levando-me a gemer de dor.

-Tem calma - os paramédicos colocaram-lhe um termómetro debaixo do braço, com muito cuidado e eu acariciei-lhe a bochecha. - Vais ficar bem está bem? - perguntei. - Podiam dar-lhe alguma coisa para as dores? - eles assentiram e introduziram no soro morfina para acalmar as dores.

Encostei a minha bochecha à palma da sua mão e assenti, cerrando o maxilar com as dores que senti. Eu não me podia mexer, estava toda dorida.
- Fica comigo.- pedi baixinho e olhei os paramédicos.- não gosto deles, são feios.- murmurei com a voz arrastada e já a adormecer.

-Eu fico, mas estás enganada, são todos muito bonitos - brinquei rindo-me e dei-lhe um beijo na ponta do nariz. - Dorme, quando chegares vais ficar melhor. - garanti apertando-lhe levemente a mão e fechando os olhos.