Centro de Saúde

- Está bem. - sorri-lhe e entrei no carro dele, no lugar do pendura. - Então, o cookie está no teu quarto não é? - estava cheia de saudades dele.

Quando entrei no carro apertei o volante antes de o pôr a trabalhar assentindo com a cabeça à pergunta dela.
-Sim, e já deve ter-me deixado um presentinho por lá - sorri levemente ligando-o.

Engoli em seco à medida que a médica falava e abracei o meu corpo, encolhendo-me. Não estava a resultar, era o que ela dizia, não estava a resultar. Olhei Jack e tentei conter as minhas lágrimas.
- Deixa o Kev ajudar-te.- disse-lhe, ignorando a médica.- é a única forma de ficares bom, por favor, deixa-o ajudar-te.

-O Kev? - ouvi a médica falar e olhei para as minhas mãos engolindo em seco. Não estava a resultar, por mais que eu fizesse não ia... eu estava a morrer. Respirei fundo passando a mão pelo capuz e mordi o lábio tentando acalmar-me. - Quem é o Kev?
-Um gajo qualquer.

Revirei os olhos com a forma como falou do Kev e coloquei-me à frente da médica.
- O Kev é o irmão gémeo dele.- resmunguei.- eles são compatíveis, ele pode sobreviver graças a ele.- apontei para Jack com o braço.- diga-lhe doutora, pode ser que a si ele ouça! Eu já tentei, mas pelos vistos ele prefere sofrer a ficar bom, ele prefere morrer a ficar comigo..- engoli em seco, frustrada, cansada.- diga-lhe.

Senti o meu queixo tremer quando ela disse que preferia morrer a ficar com ela, isso não era verdade, eu apenas não queria ser "salvo" por ele.
-Jack - disse aproximando-me - eu não sei que relacionamento tens com ele, mas... podes sobreviver. E se ele se ofereceu... é teu gémeo, o teu clone, tem as mesmas caracteristicas que tu. tenta não ser casmurro - pediu ela, porém eu nem me mexi.

Fiquei a olhar a médica enquanto tentava convencê-lo e senti o meu coração apertar-se mais e mais. Ele não se mexia, ele não reagia.
- Diz alguma coisa.- disse prestes a desesperar.- diz que sim, pára de ser casmurro, engole o orgulho e deixa-o ajudar-te.- olhei-o, apesar de estar encostada à parede.- fá-lo por mim.- pedi muito baixinho.

-Não sei - disse sentindo o meu capuz descair mais tapando-me praticamente a cara toda e deixei-me continuar quieto. Não sabia o que fazer, eu não queria.. mas também não queria estar a magoar tanto Sam.
-Jack? - senti-me ser abanado e quando a médica reagiu já eu estava a entrar em convulsões.

Passei as mãos pela cara, completamente desesperada. Como é que ele não sabia? Como é que o orgulho se podia sobrepor à própria sobrevivência? Tapei a cara com as mãos e respirei fundo várias vezes, eu não me queria irritar com ele.
- Jack? - ouvi a voz da médica e levantei o olhar, sentido o meu coração saltar-me do peito quando o vi entrar em convulsões.
- Jack! - gritei correndo para ao pé da cama, mas as enfermeira entraram no quarto e afastaram-me dali para fora, tentando acalmar-me.- não! Eu tenho de entrar! - gritei-lhes enquanto as lágrimas já escorriam pela minha face.
- Tenha calma, os médicos vão tratar dele.

Não me lembro de nada a não ser do movimento e da sensação horrivel de não conseguir respirar, tinha fico com a mente em branco durante alguns minutos, e quando o que quer que tenha sido parou ainda estava consciente, a olhar para o tecto, enfiaram-me alguma coisa pela boca e eu consegui respirar.

Eu sabia, mas porque é que ele não aceitava a ajuda de Kev? Ele estava a morrer, será que ele não percebia? Apertei os meus cabelos e encostei a cabeça à parede, levando os joelhos ao peito. Apesar de estar mais do que preocupada com ele, eu estava irritada, desiludida. Passei as costas das mãos pela cara e respirei fundo, vendo a médica a vir ter comigo. Levantei-me num impulso.
- Como é que ele está? - perguntei preocupada.
- Por enquanto, estável.- suspirou.- já pode entrar se quiser.- revirei os olhos e sem lhe dizer nada, entrei, indo para ao pé da cama.

Estava tudo tão turvo à minha volta, a única coisa estável que havia era o tecto por isso continuei a olhar para lá apesar de o peito me estar a doer muito, fiquei estático. Ouvi alguém entrar e presurmi que fosse Sam, chateada comigo, por eu não dizer um simples sim.

Sentei-me na cadeira e cruzei os braços ao peito, olhando-o. Estava magoada, não ia falar, e além do mais ele também não podia esforçar-se. Mas por outro lado, ia estar ali, queria que ele soubesse que apesar de tudo, eu estava ali com ele. Por isso, apenas me deixei estar quieta enquanto o olhava.

Deixei de conseguir sentir durante uns minutos por isso devo ter apagado por completo.
Quando acordei novamente passei a mão pela testa molhada, eu estava a suar por todos os lados apesar de estar a tremer. Eu sabia que não aguentava mais e ela tinha razão, eu estava a morrer e a deixar de lutar por ela.
-Está bem - disse apenas sem voz.

Apertei os meus joelhos mais contra o meu peito e escondi a cara nos mesmos enquanto as lágrimas escorriam pela minha cara. Ele estava a desistir, fim deste tempo todo ele estava a desistir. Levantei a cabeça quando ouvi um barulho e reparei que tinha acordado. Passei as mãos pela cara rapidamente e funguei.
- O que disseste? - perguntei baixinho quando me apercebi de que tinha falado.

-Está bem - tentei falar mais alto fechando os olhos com força por causa das dores que tinha principalmente nos músculos como se tivesse corrido uma maratona sem estar preparado. Engoli em seco respirando fundo e abri os olhos devagar.

Aproximei a cadeira da cama para o tentar ouvir melhor e passei novamente as mãos pela cara. Fiz uma careta confusa e debrucei-me para ele.
- O que é que está bem Jack? - murmurei e foi como se de repente algo gritasse dentro de mim.- tu...vais aceitar? É isso?

Voltei a fechar os olhos quando ela me começou a fazer perguntas. Doía tanto, eu queria que parasse nem que para isso tivesse que engolir o meu orgulho.
-Sim.

O meu coração começou a bater descompassadamente e por momentos cheguei a duvidar se não me iria saltar do peito.
- Oh meu deus.- se já estava a chorar, deixei de ver completamente por causa das lágrimas. Só me lembro de me levantar e pouco depois já estava a encher a sua cara de beijos, enquanto agarrava a sua camisola com muita força.- obrigada, obrigada.- choraminguei.

Gemi com dores por causa da sua agitação e fechei os olhos assentindo.
-Sim - voltei a repetir apertando a camisola dela com alguma força, a pouca que tinha, até voltar a adormecer.

Mordi o lábio quando se queixou e tentei acalmar-me para não o magoar. Beijei-lhe a testa, sentido o peso que sentia diminuir aos poucos e deitei-me ao seu lado na cama, aconchegando-o em mim e acabando também por adormecer.

Abri os olhos, estava tão quentinho, sabia tão bem. Sorri levemente puxando o que quer que fosse mais para mim. Sabia que era Sam, levantei a cabeça beijando-lhe o queixo e voltei a fechar os olhos enroscando-me nela.

Abri os olhos devagarinho com uma careta e sorri ao sentir um beijinho no meu queixo. Era ele. Sorri ainda mais quando me lembrei que ele tinha aceite ser ajudado pelo Kev e apertei o seu corpo com cuidado nos meus braços, beijando-lhe a cabeça.

Sorri levemente abraçando-a e olhei-a.
-Eu preciso de sair daqui, isto está a doer - queixei-me - quando é que falas com ele? - perguntei.

Encostei a minha cabeça à sua e depois olhei-o quando me falou.
- Não sou eu que tenho de falar cm ele Jack.- apertei o seu corpo contra mim.- ele vai fazê-lo por ti, tens de ser tu a falar com ele.- beijei-lhe a pontinha do nariz.

-Hã? - perguntei olhando-a e comecei logo a abanar a cabeça apertando-lhe a mão - não, não eu não quero falar com ele - abanei a cabeça virando-a para o outro lado. - Não.

Suspirei. Como é que eu já sabia que ele ia reagir assim?
- Jack..- murmurei, virando a sua cara para mim.- ele gosta de ti amor, ele importa-se contigo.- mordi o lábio.- olha bem o que ele está a fazer por ti, ele está a salvar-te a vida! - acariciei a sua bochecha.- não achas que lhe devias agradecer?

Abanei a cabeça com o olhar fixado no banco em que ela costumava sentar-se.
-Ele não está a ser obrigado a nada, está a fazer aquilo porque quer - disse não desviando o olhar de lá.

Revirei ligeiramente os olhos.
- Por isso mesmo, não achas que devias falar com ele? Ele está a fazer isto porque gosta de ti, porque se preocupa contigo.- suspirei.- não sei se tu farias o mesmo por ele, devido ao teu orgulho, mas ele está a lutar por ti.

Estava conversa já me estava a irritar apesar das dores que sentia. Puxei o carapuço mais para baixo até não se ver a minha cara e naõ disse mais nada, controlando a minha respiração para não desatar aos berros.