Cascata

Relembrando a primeira mensagem :

nao me mates chascas

Virei a cara para ele assim que o senti estremecer e ao perceber que era do vento que vinha de lá de fora, fechei a porta da tenda, para que ele não ficasse pior do que o que já estava. Apertei o casaco dele, que trazia vestido, e fui mais para perto dele, acabando por me sentar na nossa cama improvisada. Olhei-o, com as mãos enfiadas dentro das mangas e encolhi ligeiramente os ombros. Era para lhe dizer que não tinha fome, que não queria comer nada, mas sabia que ele ia reclamar se o fizesse.
- Não sei, dá-me qualquer coisa.- disse.- a primeira coisa que aparecer, não estou com muito apetite.

-Como sempre - acabei por dizer com um suspiro e estiquei-me até a um pacote de bolachas, tinha chocolate e era o suficiente para os dois. Abri o pacote colocando-o na sua direcção e tirei uma das bolachas levando-o à boca. Respirei fundo antes e começar a mastigar e olhei-a, fazendo-o devagarinho, ainda sentia o meu estômago às voltas - são boas? - perguntei para me distrair.

Limitei-me a encolher os ombros quando ele reclamou, mas não disse nada, sabia que se começasse a teimar, ia acabar em discussão, e eu não queria isso. Sentei-me, agarrando no pacote de bolachas que ele arranjou e tirei de lá uma. Dei-lhe uma pequena trinca e depois olhei para Jack, vendo o esforço que ele fazia para começar a comer. Algo não estava bem.
- O que é que se passa? - perguntei logo, assentindo depois com a cabeça à sua pergunta.

Olhei para Sam engolindo em seco, eu sabia que era uma questão de minutos até ela descobrir, mas eu não lhe queria contar e deixa-la preocupada, ela já sem eu ter nada ficava preocupada por tudo e por nada e agora se eu tivesse... Mordi a parte de dentro da bochecha deixando a comida cair de novo no pacote - algo não está bem comigo - disse-lhe baixinho.

Já tinha o coração aos pulos, eu sabia, eu sabia que se passava alguma coisa, bastava olhar para ele. Tentei não me passar, mordendo a parte de dentro da minha bochecha com força para me controlar e continuei a olhá-lo, à espera da sua resposta. Quando finalmente falou, juntei as sobrancelhas e aproximei-me mais dele, olhando-o com atenção.
- O que é que sentes? - perguntei baixinho. Não te passes, não te passes, não te passes.

Olhei-a quando se aproximou de mim e deixei a minha cabeça cair para o seu ombro, não queria dizer-lhe, ela ia passar-se e não queria discutir com ela. Eu ia melhorar, eu sabia que sim - só me dói a barriga - disse-lhe baixinho esticando-me até à bolacha metade comida, levando-a de novo à boca.

Senti o meu coração ficar mais apertadinho mal senti a sua cabeça no meu ombro e virei a cara para ele, roçando os meus lábios na sua resta com um suspiro.
- Não é só isso Jack.- disse, quando me disse que apenas lhe doía a barriga. Eu tinha a certeza de que era mais qualquer coisa.- diz-me.- pedi-lhe.- eu prometo que fico calma.- ia tentar.- mas eu preciso de saber, para ver se te posso ajudar.

Assim que consegui engolir fechei o pacote colocando-o dentro da mala, apesar de não saber se ela ainda queria ou nao, mas já estava toda preocupada por isso duvidava. - e o mesmo, é só uma gripe má - disse desencostado a cabeça do seu ombro para me afastar e comecei a deitar a cabeça na almofada.

Suspirei assim que percebi que não me ia dizer e deixei o que restava da minha bolacha de lado, ficando a olhá-lo mesmo depois de ele se deitar.
- Não me vais começar a esconder coisas só porque eu me preocupo, pois não? - perguntei, enfiando o carapuço do seu casaco.

Suspirei levemente com a sua pergunta e passei a mão pela cabeça - eu não sei Sam - disse-lhe - acho que é só uma gripe, mas a barriga está a doer-me e só de pensar em comer tenho vómitos - expliquei - só isso -coloquei o meu braço em cima da testa, fechando os olhos. - não estou a esconder nada.

Encostei as minhas costas à tenda, enquanto o olhava e dobrei ligeiramente os joelhos, abraçando-me depois aos mesmos. Fiquei a olhar para ele enquanto falava e a cada palavra sua o meu coração ficava mais e mais apertadinho. Eu sabia, eu sabia que isto ia acontecer. Mordi a parte de dentro da bochecha com força, para não ter nenhum ataque à sua frente e olhei em volta, tentando arranjar alguma coisa, mas ali não havia nada, nós não tínhamos nada.
- Não é melhor irmos ao médico? - perguntei baixinho, tentando que ele não se chateasse.- eu não me importo se gastarmos dinheiro com isso.

Abri de novo os olhos quando a ouvi falar em médicos e hospitais e abanei a cabeça - não, isto começou agora já vai passar - disse sentindo a minha própria voz a martelar nos meus ouvidos. Fiz um esforço para me sentar e puxei-a para mim - fica comigo, eu fico logo melhor - disse-lhe com um sorriso beijando-lhe a bochecha.

Encolhi-me dentro do seu casaco, apertando-o mais contra o meu corpo e suspirei quando ele me deu a resposta que eu já esperava, era óbvio que ele não ia querer ir a hospital nenhum, era sempre assim. Olhei-o assim que me puxou para ele e encostei-me ao seu corpo com um suspiro.
- Eu estou sempre contigo.- disse baixinho, puxando-o para que se deitasse.- deita-te.- pedi.- precisas de descansar.

O meu corpo doía mesmo a sério, para além de não a querer preocupar também não queria acreditar que estava a voltar à estaca zero. Fiz uma careta quando me ajeitei e puxei as mantas mais para mim por causa do frio que sentia - não me leves a nenhum hospital, nós não temos dinheiro - disse baixinho - temos que poupar para a casa.

Deixei que se deitasse primeiro que eu e depois fui para o seu lado, puxando bem as mantas para cima dele. Cheguei-o para mim, aconchegando-o contra o meu corpo e estiquei-me até lhe dar um beijinho na testa, suspirando ao ouvi-lo.
- Eu não te levo agora.- disse.- mas se piorares vai ter de ser.- avisei-o logo.

Não podia piorar, não podia piorar. Engoli em seco encostando-me a ela, tentando aquecer-me, mas por alguma razão não conseguia parar de tremer mesmo que tentasse - não quero ir para o hospital - disse-lhe baixinho, já tinha passado lá tanto tempo que não queria ir lá parar outra vez. Mais valia não existir se era para andar sempre no médico.

Eu não ia aguentar se ele ficasse mal outra vez, eu não ia aguentar, ele não podia piorar. Mordi a parte de dentro da bochecha com força, engolindo em seco e abracei o seu corpo, esfregando-lhe os braços assim que o senti tremer por todos os lados.
- Queres vestir mais qualquer coisa? - perguntei baixinho, apertando-o contra mim. Baixei o olhar para ele assim que o ouvi dizer que não queria ir para o hospital e suspirei, dando-lhe um beijinho na testa.- tem calma, não vai ser preciso.- murmurei. Eu não sabia se ia ou não, mas precisava de o acalmar de alguma forma.

Abanei a cabeça para responder à sua pergunta e estiquei uma mão até a colocar em cima da minha cabeça por causa da claridade, que mesmo com os olhos fechados, estavam tão sensíveis que doía. Suspirei baixinho respirando fundo quando a minha dor de barriga acalmou e sorri levemente, agarrando-lhe na mão para que ficasse ao meu lado e eu tivesse acerteza dissoo.

Deixei-me estar quieta, visto que ele não queria mais roupa, e puxei as mantas o mais que consegui para cima dele, tapando-o bem. Cheguei-me ainda mais para ele, dando-lhe um beijo na testa e assim que me agarrou na mão, eu sorri, entrelaçando os nossos dedos.
- Eu não vou a lado nenhum.- disse baixinho.- descansa.

Abri os olhos devagarinho sorrindo quando entrelaçou os nossos dedos e voltei a fechar os olhos enfiando a cabeça dentro das mantas, mas também junto ao seu corpo, ficando completamente encostado a ela enquanto tentava adormecer, conseguindo fazê-lo pouco tempo depois.

Levantei ligeiramente as sobrancelhas mal o vi enfiar-se todo debaixo das mantas, mas acabei por sorrir, chegando-me o mais que consegui para ele. Tapei-o bem, colocando um braço debaixo das mantas, para lhe conseguir fazer festinhas no cabelo. Fiquei assim durante algum tempo e ao ouvir a sua respiração calma, percebi que tinha adormecido. Abri um buraquinho, para que ele conseguisse respirar e fechei os olhos com um suspiro, adormecendo aos poucos.

Abri os olhos, até tinha dormido bem, mas tinha acordado meio febril, quase que podia sentir isso. Suspirei baixinho e passei as mãos pela barriga, pelo menos já não me doía e o meu corpo não estava assim tão mal, mas a febre parecia continuar. Olhei para Sam passando os dedos pelo seu cabelo, voltando a deitar-me ao seu lado para a ver dormir.

Não tinha dormido muito bem. Acordara várias vezes durante a noite, para me assegurar de que Jack estava bem, para me assegurar de que não se tinha passado nada com ele. Abri os olhos aos poucos, assim que senti o meu sono evaporar-se aos poucos e quando a minha visão se focou, vi Jack já acordado, a olhar para mim.
- Bom dia.- murmurei ainda toda ensonada e mal despertei, cheguei-me mais para junto dele.- como te sentes? - perguntei logo.

-Bom dia - passei os dedos pela bochecha dela e voltei a deitar-me abraçando-lhe o pescoço - estou melhor - disse fechando os olhos encostando a minha testa ao seu ombro - mas preciso de miminhos - ri-me baixinho encostando-me a ela ainda todo encolhido enquanto lhe dava festinhas no pescoço com as pontas dos dedos.

Dei-lhe um beijinho na testa mal se abraçou ao meu pescoço e juntei as sobrancelhas.
- Estás com febre? - perguntei baixinho e ao ouvi-lo falar, não consegui não sorrir.- eu dou-te miminhos.- murmurei no mesmo tom, levando as mãos ao seu cabelo, para lhe fazer festinhas.

Passei as mãos pelas suas costas dando-lhe festinhas e suspirei com a sua pergunta.
-Talvez um bocadinho - disse de olhos fechados sorrindo quando disse que me dava miminhos. - eu adoro os teus mimos - disse com um suspiro prazeroso ao sentir as suas mãos no meu cabelo.

Engoli em seco, voltando a roçar os meus lábios na sua testa e ao perceber que estava mesmo quente, suspirei.
-Deixas-me ir buscar um bocadinho de água à cascata?-perguntei, continuando a deslizar os meus dedos pelo seu cabelo. Cheguei-me mais para ele, dando-lhe um beijinho na testa e sorri ao ouvi-lo.- e eu adoro dar-te miminhos.- murmurei.

-Para quê? - perguntei abanando a cabeça - temos água ali - apontei para um sítio qualquer e abracei-a mais fortemente - não saias daqui. - disse passando uma mão por uma das minhas bochechas endireitando-me com uma careta e forcei-me a abrir os olhos - se calhar é melhor -disse-lhe baixinho.

- Para te baixar a febre.- disse, respondendo à sua pergunta e depois olhei na direcção em que ele apontava, assentindo. Baixei de novo o olhar para ele e juntei as sobrancelhas assim que me pediu que não saísse dali.- eu volto rápido.- prometi, mas nem foi preciso esforçar-me para o convencer, porque ele próprio me largou.- não te sentes bem, não é? - perguntei com um suspiro e afastei-me ligeiramente dele, esticando-me até conseguir pegar numa das garrafas que nós tínhamos.

-A minha cabeça dói - queixei-me baixinho passando os dedos pela minha testa limpando a mesma. Abri os olhos vendo-a sair e agarrei-me às mantas encolhendo-me, ou tentando, porque não era só a cabeça que doía. Levantei a cabeça espreitando lá para fora mas rapidamente a voltei a deitar, estava um frio que não se podia.