Cascata

Relembrando a primeira mensagem :

nao me mates chascas

Mordi a parte de dentro da bochecha com força quando resmungou comigo e impedi-me de me deixar afectar, ele não era ele agora. Só precisava de ter calma e de não o irritar, apenas isso e corria tudo bem.
- Está bem.- assenti.- então eu fico aqui contigo.- passei uma mão pela cara, fechando os olhos ao sentir cada vez mais chuva cair-me pelo corpo e depois, levei as mãos ao seu cabelo, fazendo-lhe festinhas meio a medo.

Fiquei a olha-la até ela falar de novo e assenti com a cabeça voltando até à mesma posição, deixando-me descontrair mais uma vez. Abanei a cabeça fazendo uma careta, não eram as festas delas que me estavam a fazer confusão, era mesmo a chuva, mas eu queria estar ali. Suspirei meio irritadiço e sentei-me de frente para ela lambendo os lábios molhados. - O que é que queres fazer? - perguntei de braços cruzados.

Mordi o lábio com força assim que o vi fazer uma careta e abanar a cabeça e afastei as minhas mãos do seu seu cabelo, deixando apenas que a sua cabeça ficasse deitada no meu colo. Fiquei a olhar para a árvores, sem saber muito bem o que fazer e quando se levantou de repente eu estremeci ligeiramente, por deixar de sentir o pouco calor que emanava do seu corpo, mas sempre dava para aquecer.
- Eu estou por tua conta.- encolhi ligeiramente os ombros, falando sempre calmamente.- por isso, podemos fazer o que quiseres.

Olhei-a enquanto falava e acabei por encolher os ombros, eu só queria estar ali. Fechei os olhos deixando-me cair para trás, tocando com as mãos nas ervas e nos musgos sorrindo levemente. - Não quero fazer nada. - Se bem que estava a ficar enteado. Eu já não sabia o que queria. Rebolei colocando-me de barriga para baixo e olhei para o lago, acabando por sorrir.

Arrastei-me pela relva e só parei quando fiquei encostada ao tronco de uma árvore. Eu bem tinha dito que ele não devia ter deixado de tomar os comprimidos, porque é que ele nunca me dava ouvidos? Suspirei, passando as mãos pela minha cara molhada e olhei para a minha roupa encharcada antes de voltar a olhar para ele.
- Então está bem.- assenti.- não fazemos nada.- encolhi os ombros e deixei-me estar quietinha.

Esfreguei um dos meus olhos encostando o queixo às minhas mãos, que estavam juntas no chão e fiquei a olhar para o lago, Era tão giro. Fiz uma careta deixando cair a testa nas mesmas e suspirei baixinho, o sono tinha-me atacado repentinamente e eu já não estava baralhado, eu queria dormir. Aconcheguei-me em mim próprio tapando os olhos com um braço e fechei os olhos sentindo-os ficarem cada vez mais pesados até eu já não ouvir nada e adormecer mesmo.

Jack não disse mais nada. Suspirei, encostando a cabeça à árvore e abri os olhos de repente, espirrando. Boa, não me faltava mesmo mais nada. Apertei o casaco que trazia contra o meu corpo, apesar de estar todo encharcado e encolhi-me sobre o meu próprio corpo. Já tinha dado para perceber que ele estava um Jack muito irritadiço e que era melhor não me aproximar muito enquanto ele estivesse assim, mas eu também não ia sair dali. Fiquei a observá-lo, vendo-o adormecer de repente e mordi a parte de dentro da bochecha com força. E agora? Eu não tinha força para o levar para a tenda e se o arrastasse, o mais provável era ele acordar. m****. Bati com a cabeça na árvore, sem saber o que fazer e acabei mesmo por gatinhar até ele. Sentei-me ao seu lado, voltando a pousar a sua cabeça no meu colo e passei as pontinhas dos dedos pelo seu cabelo encharcado. Se ao menos ele ainda tomasse os comprimidos..Engoli em seco, tentando não pensar naquilo agora e olhei para o céu quando a chuva se começou a tornar mais miudinha. Ao menos isso, podia ser que parasse de chover, finalmente.

Remexi-me abrindo os olhos e a primeira coisa que vi foi Sam. Pesnatenejei mais algumas vezes para tentar focar e levantei uma sobrancelha olhando para o céu, já não chovia tanto, mas ainda chovia. Eu tinha mesmo adormecido? Levantei o meu tronco esfregando os olhos - tenho fome - queixei-me agarrado à minha barriga enquanto olhava para o interior da floresta, Deixei a minha cabeça cair até aos meus joelhos e suspirei, não conseguia sair dali, estava gelado e com o estômago preso no meu corpo.

Eu não sei quanto tempo já tinha passado, mas só sei que estava prestes a adormecer quando ouvi a voz de Jack. Estava cansada e apesar de ainda chover, o meu corpo já estava prestes a cair para trás. Endireitei-me de repente, piscando os olhos e olhei para Jack já acordado e afastado de mim, de novo. Engoli em seco, tentando não ligar a esse pormenor e mal se queixo com fome, levantei-me de repente.
- Nós temos comida na tenda.- murmurei.- queres vir? - apontei para trás.- ou queres que vá buscar?

Estava a ficar de noite, pelo menos já estava muito mais escuro desde a outra vez. Agarrei-me às minhas pernas quando ouvi um trovão e abanei a cabeça. Não conseguia sair dali, mas desta vez eu queria, eu.. Olhei-a mordendo o lábio e encolhi os ombros.
-Quero ir - murmurei.

Estava à espera da sua resposta quando o som de um trovão se fez ouvir por toda a parte, fazendo-me soltar um gritinho, por não estar à espera. Tapei a boca com uma mão, para me calar e fiquei a olhar para Jack. Eu sabia como ele tinha medo dos trovões. Suspirei, aproximando-me dele devagarinho e quando ele disse que queria ir, eu assenti, esticando uma mão para ele.
- Vamos então.- murmurei baixinho. Só esperava que ele já estivesse melhor.

Estremeci quando a senti aproximar-se e levantei ligeiramente a cabeça esticando uma mão para a dela, levantando-me devagarinho. Encolhi-me em mim próprio enquanto era guiado por ela e olhei para a tenda, esticando-me até a abrir. Mordi o lábio deixando que ela o fizesse e entrei para um canto, para que não molhasse tudo. Agora sim, estava com fome a sério, estava com tanta fome, que para além de ter o estômago todo contorcido, a minha cabeça latejada e parecia que ia vomitar a qualquer momento.

Agradeci mentalmente por ele não se ter afastado nem se ter levantado sozinho e agarrei na sua mão, ajudando-o a levantar-se. Não me encostei a ele, dava para perceber pelo seu silêncio que ainda não estava bem, e eu não queria abusar. Conduzi-o até à tenda, abrindo-a quando lá chegámos e esperei que ele entrasse para entrar depois. Pus a cabeça de fora, espremendo o máximo de água que consegui do meu cabelo e voltei a entrar toda na tenda, fechando-a para que não nos molhássemos ainda mais. Olhei para Jack, encolhido a um canto, e soltei um suspiro, sentindo o meu coração apertadinho. Só queria que ele ficasse bom. Estiquei-me para uma das nossas mochilas, aquela onde eu tinha a certeza que havia comida e tirei de lá uma sandes que tinha comprado no outro dia.
- Toma.- estiquei-lha juntamente com outra maçã. Eu sabia que ele tinha fome, e que não era só fome de umas dentadinhas. Era fome de comida a sério, comida essa, que nós não tínhamos.

Olhei para a minha roupa e tive mesmo que a tirar, porque começava a ser desconfortável. Mandei-a para um canto onde não havia nada que se pudesse molhar e estiquei-me até a uma toalha colocando-a à volta do meu corpo, ficando a olhar para Sum que estava a fazer não sei bem o quê. Endireitei-me ligeiramente quando a vi esticar-me uma sandes e agarrei logo nela, tirando o papel que a cobria, eu estava como tanta fome que até terra comigo se fosse preciso. Assim que deixei o papel cair comecei a devora-la.

Sentei-me no canto oposto ao de Jack e fiquei a olhá-lo, apenas enrolado numa toalha. Mordisquei o meu lábio de forma nervosa e soltei um suspiro baixo, apesar de eu gostar da vista, ele ia ficar doente se continuasse assim. Aliás, eram muito poucas as probabilidades de ele não ficar depois da chuva toda que tinha apanhado. E eu também, o que ia ser a pior coisa de sempre. Fiquei a vê-lo comer e senti o meu coração apertar-se ao ver a forma como devorava a sandes, ele estava mesmo esfomeado. Eu também tinha fome, mas agora é que não podia comer mesmo, tinha de poupar para ele. Debrucei-me até conseguir chegar à roupa de Jack, aproveitando também para parar de pensar que tinha fome, e peguei numas calças e numa camisola quentinha.
- Quando acabares de comer vestes isto, está bem?- murmurei, apesar de não ter a certeza de que ele me ouvia.

Apertei a sandes na minha mão enquanto a comia o que restava dela. Nunca nada me tinha caído tão bem no estômago, mas sabia que ainda ia ficar com fome, pelo menos já não ia sentir tanta dor. Levantei o olhar para Sam enquanto mastigava, tinha que mastigar bem, ou não ia ser nada aproveitado. Assenti com a cabeça para lhe mostrar que tinha ouvido e olhei para a minha mão quando mordi o meu dedo, fazendo uma ligeira careta, a sandes tinha acabado. Quase que tinha comido o meu próprio dedo. Fiquei a olhar para a minha roupa e limpei o meu corpo começando a vestir aquela. Estremeci quando vesti a camisola depois de já estar todo vestido, ainda estava gelado mas já era diferente. Deixei o meu corpo cair em cima da manta e encolhi-me de olhos fechados.

Fiquei encostada à tenda enquanto ele comia, sentindo as minhas costas ficarem ainda mais molhadas, mas nem me importei, já estava toda encharcada e já...estiquei-lhe a roupa assim que terminou de comer e enquanto ele se vestia, troquei também eu de roupa, não me ia deitar toda molhada. Vesti uma das camisolas mais quentinhas que tinha, juntamente com umas calças e esfreguei os braços, tentando aquecer. Coloquei a roupa molhada a um canto, tentando não molhar mais nada e olhei para Jack, já deitado. Passei as mãos pelo meu cabelo, mordiscando o meu lábio inferior e acabei mesmo por me deitar a seu lado, chegando-me devagarinho para ao pé dele, para o ajudar a aquecer.

Abri os olhos quando a senti perto de mim e também me encostei a ela, tinha a minha cabeça a doer mas não queria falar muito disso, ela ia ficar preocupada e eu tinha a sensação que algo não tinha corrido bem comigo, tinha ficado tudo turvo na minha mente de repente. Suspirei baixinho puxando as mantas para cima de nós os dois e abracei-me a ela meio a tremer, esfregando o seu corpo. Não a queria doente por minha causa.

Respirei fundo aliviada quando finalmente o senti agarrar-se a mim e abracei o seu corpo com força, por o estar a sentir todo a tremer. Puxei as mantas mais para ele, aconchegando-o e entrelacei as minhas pernas nas suas. Só precisávamos de ficar os dois quentinhos e secos. Rocei os meus lábios na sua testa, acabando por lhe dar um beijinho lá e suspirei baixinho.
- Descansa.- murmurei baixinho. Eu não precisava que ele me dissesse, eu sabia que ele devia estar cansado.- vais sentir-te melhor depois, eu não saio daqui.- cheguei-me mais para ele, se é que isso era possível.

Apertei a sua camisola na minha mão para tentar parar-me de tremer, mas parecia que por enquanto isso não ia acontecer. Fechei os olhos com força encostando a cabeça ao seu pescoço e assenti com a cabeça, puxando as mantas mais para mim, colocando uma perna por cima da dela, queria que fosse ela a ficar quentinha, ela precisava, eu é que tinha sido o estúpido a ter ido lá para fora.

Olhei para baixo, quando senti a minha camisola ser apertada, e vi os nós dos seus dedos brancos de o fazer com tanta força. Mordisquei o meu lábio, soltando um suspiro e beijei-lhe a testa, encostando a minha cabeça à sua. Continuei a passar as mãos por todo o seu corpo, para o tentar aquecer e assim que senti uma perna sua em cima das minhas, eu olhei-o.
- Eu estou bem, tu é que precisas de te aquecer.- entrelacei as minhas pernas nas suas, tapando-o bem.- eu estou bem.- repeti, para o descansar, beijando-lhe a bochecha.

Abri os olhos quando me disse que estava bem mas não quis saber, ela dizia sempre que estava bem, ia a ver-se e não estava. Encostei-me ainda mais a ela, como se fosse possivel, empoleirando-me no seu corpo e dei-lhe festinhas nas costas. Ao mesmo tempo que a aquecia conseguia aquecer-me também a mim, por isso não fazia mal, eu ia ficar bem.

Percebi que não valia a pena dizer mais nada assim que o senti empoleirar-se no meu corpo e por isso, deixei apenas que me continuasse a aquecer, fechando os olhos ao sentir as suas festinhas. Também eu continuei com as minhas, aconchegando o meu corpo no seu e tapei-nos com uma das mantas.
- Eu amo-te Jackie.- disse baixinho, sentindo os meus olhos pesarem e eu juro que tentei não adormecer primeiro que ele, mas isso acabou mesmo por acontecer. Tinha sido um longo longo dia.

Fiquei ligeiramente mais descansado por ela não resmungar e me deixar estar a aquecê-la e tossiquei encostando a cabeça ao seu ombro, ainda estava cheio de frio apesar de tudo. Eu era mesmo otário, não podia estar quieto numa tenda, tinha que ir apanhar chuva e frio para agora começar a ficar doente? Aliás, o pior nem era eu, era mesmo ela. Encostei a cabeça à dela e beijei-lhe os lábios vendo que já dormia e apesar de tentar fazer o mesmo, não conseguia, ainda tinha fome.

Eu bem que queria dormir mais, mas sentia-me gelada e aos poucos, o sono que tinha foi-se evaporando. Quer dizer, eu continuava com sono, mas não conseguia dormir mais. Fui abrindo os olhos devagarinho, chegando-me mais para Jack por causa do quentinho e quando levantei o olhar, vi-o ainda de olhos abertos. Fiz uma careta. Das duas uma, ou ele não tinha dormido ou eu é que tinha dormido muito pouco.
- Não dormiste? - perguntei baixinho, puxando as mantas mais para cima de mim.- passa-se alguma coisa?

Fiquei apenas a olhar para a tenda, para um ponto fixo, quando percebi que não ia conseguir dormir. A chuva até tinha parado entretentanto, mas ainda era de noite, ainda estava um frio de gelar, não nos iamos conseguir aquecer o suficiente. Eu tinha a sensação que já não aguentava mais isto, mas isto era só o começo. Olhei para a Sam quando percebi que tinha acordado e encolhi os ombros - não tenho sono.

Estremeci ligeiramente assim que um arrepio me trespassou pelo corpo e fechei os olhos, respirando fundo. Eu não podia nem ia ficar doente, recusava-me. Assenti assim que disse que não tinha sono e voltei a entrelaçar as minhas pernas nas suas, roçando os meus lábios no seu maxilar.
- Ainda tens fome? - perguntei baixinho.- ainda temos ali mais duas sandes.- disse, enfiando as minhas mãos dentro das mangas da minha camisola.

Ao reparar que se tinha arrepiado puxei-a mais para mim beijando-lhe a testa. Sentia-me tão culpado. Suspirei baixinho e abanei a cabeça, estava a mentir, mas também não queria comer mais, ela precisava e eu ia precisar mais tarde. Se a tempestade voltasse durante o dia não iamos conseguir ir buscar comida, tinhamos que a poupar - não quero agora, mas se tu tiveres comes - toquei-lhe na bochecha.

Fechei os olhos ao sentir o seu beijinho na minha testa e passei as mãos, que estavam enfiadas dentro das mangas, pelo seu peito, encostando depois lá a cabeça.
- Não.- abanei a cabeça, tal como ele tinha feito.- eu estou bem.- murmurei e não voltei a repetir para ele comer, ou ainda se chateava.

Mordi o lábio quando disse que não e engoli em seco, eu já não sabia há quanto tempo é que ela não comia, mas já era há muito. Eu tinha-me mentalizado que tinha que começar a reparar em tudo o que ela fazia, principalmente nisto. Ela não podia ficar doente, antes prefiria ser eu a ficar de novo, ela só tinha que ficar bem até eu arranjar um emprego.
-Tens que comer - sentei-me na tenda e olhei em volta à procura da comida.