Centro de Saúde

-A tua irmã está apaixonada por um bad boy - ri-me olhando para Ruby. Encostei o meu queixo ao cimo da sua cabeça e fiz festinhas ao seu braço.

Ri-me com o que o Kev disse e senti a pele no meu braço a ficar toda arrepiada. - Tem cuidado com o teu Jacob o bad boy.
Ela sorriu e deitou-se na cama a olhar para nós - Ele é querido comigo. E vocês parecem mesmo namorados. - riu-se - A Ruby e o Kevin são como os passarinhos, em cima de uma árvore aos beijinhos.

Arregalei os olhos com que Lilly e evitei um riso encostando a minha testa ao ombro de Ruby mas acabando por inevitavelmente rir-me,
-Os passarinhos dão beijinhos? - perguntei a ruby.

Ri-me e assenti - Nesta música dão, A minha mãe costumava cantar-nos isto. Ela nunca mais se esqueceu. - ela olhava para nós com um sorriso gigante enquanto abanava as pernas - Vocês são mesmo chatos. Eu quero que vocês digam que se amam como nos filmes das princesas. Kev és tu primeiro. É sempre o rapaz que diz primeiro.

Levantei o olhar para Lilly e abri muito os olhos com o que ela estava a pedir. E agora? O que é que eu lhe ia dizer? Engoli em seco e encostei a minha cabeça à dela.
-Mas nos filmes eles só dizem num momento querido, se eu disser agora vai perder o efeito todo

Ela revirou os olhos - És uma seca Kev. Parece que tens medo. - voltei a tocar-lhe no braço com o pé - Lilly! Porta-te bem. Não sejas chatinha. - ela deitou-se toda amuada e eu suspirei - Já tinha saudades dos ataques de excesso de mimo.

E tenho, um bocado. Fiz uma ligeira careta e ri-me quando amuou.
-Deixa, ela acaba por nos vir pedir outra vez - olhei para ela durante um bocadinho e dei-lhe um beijinho na testa. - desculpa.

O médico entrou no quarto e sorriu ao ver-nos a todos na cama - Isto não é suposto ser assim mas pronto, - os meus pais vinham logo atrás - Já tratamos da alta. Agora tens de descansar e depois de manhã já poderás tirar a ligadura. Tiras e vês como estão os pontos. Se ainda não tiverem com muito bom aspecto, voltas a coloca-la. - assenti - As melhoras.
Sorri e agradeci antes de ele sair do quarto. A minha mãe aproximou-se com um saco de roupa e eu fui à casa de banho trocar-me num instante. Tinha-me trazido um vestido azul escuro às bolinhas. Quando sai da casa de banho a Lilly veio agarrar-se às minhas pernas - Gosto muito de ti apesar de seres má. - abanei a cabeça e dei-lhe um beijinho. Despedi-me dos meus pais que me mandaram ter cuidado e ligar todos os dias e ir lá a casa. Quando sairam suspirei enquanto arranjava o resto das minhas coisas. - Queres vir ou estás a gostar da estadia?

Fui ter com Ruby, mas antes de lhe dizer alguma coisa agarrei na mão de Lilly e baixei-me até ela.
-Pode ser que um dia eu diga princesinha - beijei-lhe a testa - quando eu disser digo-te logo sim? - suspirei abraçando-a. Levantei-me olhando para Ruby e abanei a cabeça.
-O que mais quero é distancia de hospitais.

Vi a Lilly a encolher os ombros ao Kev e a sair toda triste a olhar para o chão. Olhei em volta para ver se tinha tudo - Ok, então vamos embora. Quero dormir. Dormir a sério. E quero uma cama fofinha.

Suspirei vendo-a triste e olhei para Ruby agarrando-lhe no braço com medo que ela ainda desmaiasse.
-Está bem, vamos... - disse lembrando-me que tinha que ir a conduzir no meu carro, com ela, outra vez.

Não, estava a ser tão mau, porque é que simplesmente não me podiam dar o mesmo sonho quando eu estive em coma? Era tão bom, eu estava tão feliz, e depois apenas acordei, foi a pior sensação da minha vida, acordar sozinho e a recordar-me de tudo com uma excessiva dor de cabeça. Eu tinha entrado numa espécie desse coma mas com recordações, as recordações que eu detestava, isto era castigo, só podia e eu nem acreditava na vida depois da morte e agora estava no inferno. Ou então... não, eu tinha perdido demasiado sangue para estar vivo.
-Larga-me
-Não, Cyn.. - era como se vivesse tudo novamente, já não sabia o que era pior, estar morto ou estar vivo.

Kevzinho deprimente o.O off

Kevin continuava a perder sangue depois de a ambulância ter chegado, colocaram-no numa máquina e tentar estacar o sangue ainda no local. Um paramédico quando viu Ruby segurou-a pelos ombros e não fez mais perguntas, apenas a sentou no banco ao canto. O homem que estava a cuidar das feridas profundas dele olhou para o outro e fiz uma careta estranha, normalmente encontravam raparigas adolescentes neste estado, mas era tudo para chamar a atenção, mas ele não parecia tê-lo feito para isso, ele tinha-o feito demasiado bem. Durante a pequena viagem entre aquele beco até ao hospital tentaram estabiliza-lo e conseguiram fazer com que parasse de perder sangue por todo o lado. O homem que tinha ajudado Ruby disse que ela tinha que esperar na sala de espera e que já iam falar com ela para poder informar alguém da família dele, mas como era óbvio ele não tinha ninguém.
Os médicos atenderam-no de urgência analisando e reparando todos os danos, assim que conseguiram foram procurar o tipo de sangue de Kev, que era raro, demasiado, mas claro que havia sangue para ele receber. Ainda a receber o sangue colocaram-no num quarto sozinho e a médica encarregue dele foi falar com a Ruby sentam-se ao lado dela.
-Boa dia - sim, já era de manhã , ela sorriu-lhe sorriu-lhe e acabou por suspirar, a situação era complicada - sabe se há algum motivo para ele ter feito isto? - perguntou antes de dar outra informação qualquer.

Passei a noite sentada nos sofás da sala de espera, a ver o ponteiro do relógio a mexer lentamente. Só conseguia pensar nele, deitado no chão, e muito sangue. Ele estava a morrer...
Liguei as meus pais a contar o que se tinha passado e a dizer que ia ficar no hospital com ele, que não se tinham de preocupar, e que ia dando noticias.
Levantei-me quando vi a médica a vir até mim mas voltei a sentar-me, Abanei a cabeça com a pergunta dela - Eu não sei.. mas ele.. - engoli em seco - Ele não queria que eu estacasse o sangue por isso.. - por isso queria morrer - Eu posso vê-lo? - perguntei totalmente em pânico.

A médica suspirou e assentiu, talvez tivesse que falar com um psicólogo para quando ele acordasse.
-Tenha calma, há alguém a quem eu possa dizer o que se passa? - perguntou levantando-se com Ruby para a levar ao quarto. - Ele está a receber sangue, por isso não se assuste e não podemos ter a certeza quando é que ele acorda, é quando estiver pronto, mas felizmente não está em coma nem nada parecido, está só a dormir.

- Ele não se dá muito bem com os pais.. - disse baixinho e apenas assenti com a cabeça. Fiquei com a garganta seca. Eu queria vê-lo e queria que ele acorda-se..- Eu posso ficar com ele? - perguntei antes de entrarmos para o quarto onde ele estava.

A médica fez uma ligeira careta, talvez devesse mesmo chamar um psicólogo. Assentiu ao que Ruby disse e abriu-lhe a porta.
-Deve, eu volto daqui a umas horas.

Fechei a porta depois de entrar e fiquei durante o que pareceram horas, parada no mesmo sitio a vê-lo naquela cama. Fechei os olhos e respirei fundo para me impedir de começar a chorar e aproximei-me dele. Sentei-me no sofá e cheguei-o para perto da cama dele, de maneira a conseguir agarrar-lhe na mão - O que disseste na rua.. - comecei baixinho - Podes também não me amar, mas eu continuo a amar-te por isso tens de ficar melhor.. além do mais tens de melhorar para levares um estalo por teres quebrado a promessa. - disse sorrindo ligeiramente.

Kevzinho on

As coisas estavam a ficar melhores, a Ruby tinha finalmente entrado na minha vida, o pior no meu pesadelo era que por vezes Cyn e ela ficavam frente a frente apenas ao olharem-se e eu no meio a ver se conseguia decidir. Elas eram as duas tão perfeitas, em todos os sentidos, excepto que Ruby tinha a vantagem de estar viva. E se eu tivesse feito pior para ela? Eu não a queria magoar mais, mas... eu já não conseguia, não a tinha a ela, não tinha um irmão que tinha descoberto, não tinha a sam, não tinha os meus pais, não tinha o meu irmãozinho nem a Cyn, estava sozinho. Demasiado.

Toquei-lhe no cabelo enquanto olhava para ele a dormir e suspirei. Deitei-me no sofá toda torta, mas mantive a mão dele apertada na minha. Quando fechei os olhos só o conseguia ver na rua, cheio de sangue, a querer morrer.. Apertei uma almofada e encostei-me à mesma enquanto tentava não chorar.

Kevzinho on

Quando comecei a ouvir coisas ao longe, cheguei à esplêndida conclusão que estava vivo. Suspirei, não sei se o fiz mesmo, mas pelo menos a desilusão de ter percebido que não estava como desejava tinha-me feito tentar fazer isso.
Eu pensava e as pessoas também o dizem, que o inferno é feito de fogo, escuridão e almas perdidas. O fogo arde com bastante raiva até estar satisfeito depois de engolir as almas, mas mesmo assim, mesmo com o fogo a arder incessantemente existe a escuridão.
Eu consigo provar a todos que estão errados. Eu estou no inferno. Existem psicopatas e santos, não existe o diabo, ele apenas está personificado pelo outro lado, pela segunda face que todos temos. Eu ainda não sei qual é a minha, apesar de já ter fingido para mim próprio que sabia, já me escondi nela.
O inferno não é para sempre, talvez quando eu conseguir o que quero:"esquecer", talvez aí consiga ultrapassar a fina barreira entre ele e o céu. O problema aqui é esquecer, nem todos conseguem. Como é que é possível esquecer algo que nos marca tanto? Apenas não é, por isso o ciclo repete-se e quando pensamos que já conseguimos ultrapassar tudo aparece-nos um obstáculo à frente que nos faz retroceder e voltar à estaca zero.
Já tentei o suicídio demasiadas vezes, duas delas a pensar nisto, talvez tivesse paz depois de morto, mas nunca resultou, talvez eu não quisesse realmente morrer, porque se quisesse tinha várias opções que me faziam desaparecer num instante e sem salvação. Mas eu queria, e eu queria mesmo, porque viver sozinho e rodeado pela m**** que eu próprio fiz não faz muito sentido, pelo menos para mim. Sim, eu continuo preso ao passado. Porque a chave para ultrapassar aquele obstáculo é alguém que nos ajude, e eu não tenho ninguém, por isso vou continuar sempre aqui... e eu não quero isso.

Abri os olhos e suspirei baixinho. Olhei para ele e deixei-me estar deitada no sofá. Eu só queria que ele acordasse... este tempo de espera, sem saber o que estava a acontecer, como ele estava.. estava a matar-me.. - Kev? - chamei baixinho na esperança que ele acordasse.

Abri os olhos quando consegui ao mesmo tempo de ouvir a voz de Ruby e juro que se não ouvisse a porcaria da máquina que tanto conhecia eu ia pensar que tinha morrido de vez. Abanei a cabeça.
-Não, não era suposto - murmurei quase sem voz - não quero estar aqui - olhei em volta até a conseguir ver.

Apertei a mão dele e sentei-me na beira da cama - Calma. Kev, tem calma.. - olhei-o e suspirei - Não interessa se queres ou não, vais ficar aqui até ficares bem.

Fiquei a olhar para ela com um suspiro e subi um pouco o olhar vendo o saco de sangue. Abanei a cabeça e fechei os olhos - eu fico bom, mas para quê? - tossi para clarear a garganta - para depois ires embora?

Abanei a cabeça - Eu não me vou embora. Só não quero que voltes a fazer isto.. e não quero que desistas.. - suspirei - Fazes isso por mim? - inclinei-me para ele e rocei os lábios na sua bochecha.

Voltei a abrir os olhos e fiquei a olha-la.
-Não vais mesmo? - perguntei apertando levemente a mão dela que me apertava. Virei a cara quando roçou os lábios na minha bochecha e olhei para os mesmos, tentei levar a mão à sua bochecha como gostava de fazer mas não o fiz porque doía. - Porquê?

- Não. - disse com um pequeno sorriso - Não vou mesmo. - olhei-o quando virou a cara para mim e mordi o lábio quando o vi a olhar para os meus lábios. - Porque eu ainda te amo. - disse baixinho - E não te quero perder.. mesmo que seja só como amigo.

Fiz um esforço e levantei mesmo a minha mão até à sua bochecha.
-Eu não quero ser só teu amigo - disse olhando os seus olhos. Fuck sentia-me tão cansado que era capaz de adormecer aqui no meio. Deixei o braço cair com cuidado - mas não preciso de pena, ou coisa parecida.

Suspirei e continuei a olhar para ele - Mas eu sei que ainda a amas.. - disse referindo-me à Cynthia. Não queria falar disso agora.. ele precisava de descansar. Olhei para os braços dele - Posso ir embora se quiseres. Se achas que estou aqui por pena, posso ir embora.

Baixei o olhar sem lhe responder nada, eu nunca a ia deixar de gostar dela, porque ela ia ser sempre a minha Cyn e todos tinham que compreender isso, mas isso não me impedia de amar a Ruby.
Abanei a cabeça - Não quero - olhei para a porta - mas se estiveres comigo por pena, a porta é toda tua.