Quarto de Jackson Grant

Encostei a minha cabeça ao seu ombro e fechei os olhos, aproveitando para estar com ele, muito encostadinha e só com ele. Levantei a face quando ouvi a porta abrir-se e engoli em seco, olhando-o. Encostei a minha testa à sua e olhei os seus olhos, tentando passar-lhe força.
- Vai correr tudo bem.- sussurrei só para ele.- eu vou estar aqui quando voltares, vai correr tudo bem.- voltei a repetir e beijei-o.

Apenas assenti com a cabeça, porque não podia ir a baixo, pelo menos com ela ali.
-Consegues andar? - perguntou a médica, eu assenti e e levantei-me com cuidado olhando para Sam uma última vez e indo até à cadeira de rodas que estava à minha espera sendo guiado até uma sala cheia de máquinas onde as outras pessoas também estavam a chegar. Arrepiei-me da cabeça aos pés quando vi aquelas pessoas, umas melhores outras piores, evitei olhar, não conseguia, apenas passei para outra cadeira que ela reclinavel e olhei para as agulhas que haviam. A enfermeira sorriu-me mas eu não consegui.
-Podes dormir, o tempo passa mais rápido. - disse. Eu assenti, ainda bem que não tinha dormido, porque sentia-me cansado e eu precisava mesmo que isto passasse rápido. Ouvi uma voz a falar comigo, apenas olhei a menina que devia ter uns dez anos e ela sorriu-me. Sorri-lhe também, não sei bem como e pensei que ela ia falar, mas não disse nada. Ela era tão linda, não tinha cabelo nenhum, mas tinha uns olhos azuis gigantes e uns lábios bem vermelhos e estava muito quietinha no seu sitio.Passou pelo menos meia hora até conseguir adormecer.
-Jackson - alguém me empurrou e eu abri os olhos sentindo-me ligeiramente zonzo.
-hm.
-Precisamos que se levante para ir novamente para o quarto, percebeu? - assenti com a cabeça e sentei-me aos tremeliques na cadeira de rodas. Apetecia-me tanto dormir, não sentia nada demais agora, a não ser ligeiras tonturas e sono. Quando entrei de novo no quarto vi Sam novamente, sorri-lhe um bocadinho, levantei-me agarrado à cama e deitei-me sem dizer nada, puxando os cobertores para cima e fechando os olhos apesar de estar acordado.

Mostrei-lhe um sorriso confiante quando me olhou antes de sair no quarto e deitei-me na cama, agarrando-me à sua almofada. Enfiei o nariz na mesma e fechei os olhos, eu só esperava que corresse mesmo tudo bem. Eu queria ter estado lá com ele, e isso não me saía da cabeça. Queria conseguir apoiá-lo naquele momento complicado. Porque sejamos sinceros, todos sabemos como é fazer quimioterapia. Temos sempre uma noção, mesmo quando não somos nós a senti-lo. As horas foram passando e quando ouvi a porta do quarto abrir-se, vi Jack sorrir-me levemente. Engoli em seco e levantei-me rapidamente, deixando tudo como estava antes. Sorri-lhe também e olhei a médica que assentiu, aproximando-se.
- Deixe-o descansar, por enquanto parece estar bem.- assenti e vi-a sair. Aproximei-me da cama e beijei-lhe a testa, fazendo só algumas festinhas no cabelo antes de me sentar.

Puxei as mantas para cima e sorri-lhe enquanto me fazia festinhas no cabelo.
-Está frio - disse fechando os olhos e encostando-me a ela até sentir o quentinho do seu corpo passando a mão pela sua perna e virando-me de lado.

Acabei por me deitar a seu lado e continuei com as festinhas, ajeitando as mantas e chegando-me para ele quando se queixou com frio. Rocei o meu nariz no seu e delineei a sua face com a minha mão. Ele era lindo, ele era perfeito e acima de tudo, ele era meu. Só meu.
- Está a ficar melhor? - perguntei baixinho.

Assenti com a cabeça sorrindo com os seus toques que tinham tudo menos de mau e agarrei-me à sua perna roçando a minha cara na mesma.
-Amo-te - disse baixinho enquanto adormecia.

Deixei que se agarrasse a mim e continuei com as festinhas. Eu só queria mimá-lo e beijá-lo e fazê-lo feliz.
- Eu também te amo.- sussurrei enquanto sorri que nem uma parvinha e fiquei a vê-lo dormir.

Abri os olhos e fiz uma careta mexendo-me devagar até deitar a cabeça na almofada. Mordi o lábio engolindo em seco, e a minha boca estava mesmo seco e fechei os olhos. Parecia que me tinham partido os ossos todos de uma vez e que agora estavam a ir ao sítio.

Não dormi nada, eu queria estar acordada quando ele acordasse. Mordi o lábio quando se começou a mexer e afastei-me ligeiramente, olhando-o. Levantei-me e agarrei na garrafa de água, a médica disse que ele podia precisar.
- Bebe um bocadinho.- falei calmamente.- vai fazer-te bem.

Agarrei na garrafa de água subindo um bocadinho a cabeça e bebendo um bocadinho, não me caiu nada bem no estômago mas pelo menos não tinha sede. Voltei a pousar a cabeça na almofada de olhos fechados e senti a mão dela na minha apertando-a levemente.

Esperei que bebesse a água e depois voltei a pousar a garrafa, agarrando na sua mão e sentindo-o apertá-la. Sorri e voltei a deitar-me a seu lado.
- Como te sentes? - perguntei baixinho, olhando-o.

-Doente - disse de olhos fechados - eu detesto isto - disse fazendo uma careta quando me mexi. Abri os olhos olhando para ela - mas eu estou bem, podes dormir ou comer alguma coisa - disse voltando a fechar os olhos com um sorriso.

Suspirei levemente e aproximei-me dele, beijando-lhe a testa.
- Não tenho fome, não te preocupes.- murmurei. E a verdade é que não tinha mesmo. Olhei o seu sorriso, mesmo que fraquinho e beijei o mesmo muito ao de leve.- gosto tanto quando sorris.- suspirei.

Sorri um bocadinho mais quando disse que gostava que eu sorri-se e fechei os olhos encostando mais a cara contra o seu quentinho.
-Mas tens que comer. - disse abrindo os olhos e olhando para ela.

Abracei o seu tronco, procurando aquecê-lo e cheguei-me mais para ele. Dei-lhe muitos beijinhos na testa e suspirei, assentindo.
- Eu sei Jackie.- olhei-o também.- mas não tenho muita fome por agora.- fiz uma careta.

Voltei a fechar os olhos, ela conseguia aquecer-me muito bem, virei-me para o seu lado tendo cuidado com os fios e enrolei-me nela como uma criança. - Não estejas triste, se estiveres eu quero que vás embora - disse agarrado à sua camisola, porque eu não queria que ela fosse, mas preferia que fosse assim do que estar ao pé de mim triste.

Deixei que se aconchegasse em mim como queria e depois beijei-lhe a cabeça, fazendo-lhe festinhas no cabelo. Suspirei com o que ele disse e abanei a cabeça.- não me peças para ir embora.- pedi muito baixinho, fechando os olhos para não chorar. Eu estava com tanto medo.- eu quero ficar aqui contigo e eu não estou triste.- abri os olhos para o olhar.- eu estou bem.

-Eu vou pedir se estiveres em baixo - disse olhando-a por momentos e abraçando-a com a maior força que consegui fechando os olhos como se assim a pudesse sentir melhor. Cerrei o maxilar para não começar também aqui a chorar e tentei sentar-me com cuidado na cama levando a mão ao estômago e respirando fundo. - A água não me caiu nada bem.

Escondi a minha cara no seu pescoço quando me abraçou e fechei os olhos com força.
- Eu estou bem, a sério.- murmurei e deixei-me ficar quieta durante um bocadinho. Afastei-me quando se tentou sentar e ajudei-o, suspirando com o que ele disse.- desculpa..- pedi.- não devia ter dito para beberes.- engoli em seco.- queres que chame a médica?

-Eu estava com sede - disse passando a mão pela cabeça e neguei com a mesma. - Não é preciso, isto passa - disse respirando fundo encostando a cabeça à almofada. Eu queria parecer ao máximo estar bem, não queria que ela se preocupasse, mas era impossivel, estava a suar por todos os lados e com calafrios ao mesmo tempo.

Revirei os olhos com um suspiro e ignorei tudo o que ele disse, carregando no botão para chamar a enfermeira ou a médica, não me interessava, eu só queria que chegasse alguém. Passei-lhe a mão pela testa e pela cara e suspirei quando vi que estava quente demais. Olhei a porta quando esta se abriu e engoli em seco.
- Eu acho que ele está com febre.

-Eu estou bem - resmunguei mal entraram pela porta, a médica e a enfermeira entraram e esta última meteu-me logo o termómetro debaixo do braço. Suspirei estremecendo ligeiramente e vi a médica a sorrir-me. - Porque é que está a sorrir? - perguntei eu, porque sinceramente, estava tudo mal, não havia nenhuma razão para que ela me sorri-se.
-Porque tu só começaste hoje e já tens uma fã. - disse ela fazendo-me levantar uma sobrancelha.

Afastei-me para que a médica pudesse fazer o trabalho dela e sentei-me na cadeira, puxando-a mais para o cantinho. Levantei as duas sobrancelhas e olhei-a. Não me vão dizer que ela se está a fazer a ele pois não?
- Uma fã?- tentei não revirar os olhos.

-Hm? - perguntei ligeiramente confuso.
-Na sala de quimioterapia a Camilla, ela não quis falar porque percebeu que era a primeira vez. - olhou para Sam que estava desconfiada - é uma menina de nove anos, não faz mal ao seu rapaz - sorri ligeiramente e o termómetro apitou revirei os olhos quando vi a temperatura. - Eu já lhe venho trazer medicamentos para a febre, estás enjoado? - eu assenti e ela sorriu mais um bocadinho saindo.

Continuei com as sobrancelhas erguidas enquanto ela falava e sim, revirei os olhos quando ela falou numa tal de Camilla. A sério? A sério que ela andava a fazer casalinho com o meu namorado? O meu namorado?
- Nove anos? - quase que guinchei e comecei a rir-me por quase ter começado uma cena de ciúmes sem razão. Respirei fundo várias vezes e depois de a médica ter saído, olhei Jackie.- eu estava quase a chatear-me com ela.- arregalei os olhos.

Sorri levemente com para Sam.
-Eu vi-a, ela é querida - disse vendo a enfermeira colocar-me pelo menos cinco comprimidos em cima das pernas fazendo-me fazer uma careta com a quantidade, lá os tomei, apesar de detestar, e o comer veio a seguir o que fez suspirar.

Sorri-lhe também e assenti, cruzando as pernas e recostando-me na cadeira. Aquilo era tão desconfortável. Suspirei quando vi a quantidade de comprimidos que ele tinha de tomar, mas eu sabia que era para o bem dele. Olhei depois a enfermeira a entrar com comida e olhei para ele, esticando-me para pegar na sua mão.
- Já sabes que tens de comer.- mordi o lábio.- nem que seja apenas um bocadinho amor.

-Detesto comer quando não tenho fome - queixei-me pegando primeiro na colher por causa da sopa e primeiro comecei por brincar com o líquido nojento que aquilo era, quando finalmente comecei parei a meio, porque eu sabia o que ia acontecer, se não era a seguir, era depois de já não ter nada no estômago.

Voltei a suspirar e encostei-me na cadeira, largando a sua mão. Não, ele não merecia, ele não merecia tudo isto. Ele não conhecia os pais, descobrira à pouco tempo que tinha um irmão gémeo e sabe-se lá que mais lhe tinha acontecido. Eu preferia mil vezes, eu preferia ser eu a estar naquela cama, preferia ser eu a sofrer e a ter de fazer todos aqueles tratamentos, preferia ser eu.

Não conseguia sequer imaginar o escanda-lo que ela faria se me encontrasse, mas o que queria nem pensar era no facto de ela me encontrar e eu neste estado. Engoli em seco brincando com uma caixa de comprimidos, eu estava morto. Enfiei-me debaixo das mantas respirando fundo e fechei os olhos tentando descontrair, mas era dificil fazê-lo num hospital.