Quarto de Jackson Grant

-É só um simples e inofencivo comprimido - pedi-lhes começando a passar-me.
-Temos pensa mas tem que ter a autorização do médico.
-Eu... - passei a mão pela testa - eu não posso esperar.
-Vá a um médico - pediu.
-Eu só confio num médico e ele não está aqui!
-Então vai ter que esperar. - Suspirei encostando a cabeça ao balcão e fui-me embora irritado. Qual era a cena por causa de um simples comprimido, é que eu já nem pagava a caixa, e estava a dar dinheiro a mais.
Com um suspiro deitei-me na cama agarrando-me às cobertas apesar de ainda ser de dia. Não pretendia sair do quarto, estava deprimido porque sabia que as minhas mudanças de humor iam começar a aparecer muito frequentemente e em diversas ocasiões, de um momento para o outro sem qualquer motivo. Não queria estar perto de Sam, a única pessoa com que me preocupava agora, quando isso acontecesse.

Abri a porta do meu quarto com um pequeno suspiro e atirei-me para a cama, enterrando a cara numa almofada. Ele importava-se comigo, ele queria tomar conta de mim, sem dúvida estranho, mas um estranho bom. Estremeci com o toque estridente do meu telemóvel e levei a mão ao bolso, retirando de lá o mesmo. Olhei o ecrã e quando reconheci o número, um arrepio percorreu o meu corpo, como se as feridas doessem agora de novo. Eu não queria ter medo, eu não podia nem devia ter medo, mas era inevitável.
- Olá pai..- cumprimentei num murmúrio.
- Onde estás? Onde raio te meteste? - ele gritou, completamente fora de si. Mais uma vez, ele tinha bebido.
- Pai...tu sabes onde estou...tu sabes que vim de férias.- tentei parecer calma, para que ele não se irritasse ainda mais.
- Não, não! Tu foste embora, tal como a tua mãe! - a voz dele estava rígida, fria.- tu Sam, tu és igual a ela.- ele voltou a gritar e ouvi o estrondo de um copo a partir.- sabes que vontade tenho quando me fazes isto? Sabes?! Tenho vontade de te fazer desaparecer, de te fazer pagar por me abandonares tal como ela fez.- a sua voz começou a tornar-se fraca aos poucos, ele começava agora a chorar.- não percebo porque te criei se ao fim de este tempo todo foste fazer-me o mesmo que ela Samantha...- ele murmurou.
- Eu não te abandonei pai...- disse muito baixinho, encolhendo-me por ele me estar a tratar assim.
- Abandonaste, porque tu és a mesma puta que ela! És tal e qual! - foi a gota de água, a máscara que sempre tentei manter desabou por completo, deixando que as lágrimas escorressem pelo meu rosto. Eu sabia que ele precisava de descarregar, e que só me tinha a mim para o fazer, mas por mais que os quisesse esconder, eu também tinha sentimentos. Nada mais se ouviu, ele tinha desligado e mais uma vez eu tinha ficado sozinha. Passei as mãos pela cara enquanto o choro se tornava compulsivo. Era agora que eu precisava dele. Levantei-me com a visão turva e sem que pudesse comandar o meu corpo, saí do quarto à procura do dele. Eu não me conseguia controlar, eu não podia fazer isto, eu não podia deixar que me vissem assim, mas acho que neste momento nem poder sobre mim própria eu tinha. Bati à porta num ritmo descompassado e quando esta se abriu eu apenas chorei à sua frente.- cuida de mim agora.

Levantei-me quando ouvi a porta a bater e assustei com o estado de Sam que pedia para eu cuidar dela agora. Agarrei-lhe numa mão em silêncio e fechei a porta atrás de mim olhando-a e puxando-a para mim.
-Sam - murmurei - o que se passou? - tentei saber levando-a até à cama.

Deixei que me puxasse para o quarto e com as lágrimas a escorrem pelo meu rosto, abracei-me a ele, escondendo a cara no seu peito tentando ao máximo controlar-me.
- Eu não consigo, dói muito...- murmurei entre soluços.- diz que eu não sou como ela, diz, por favor.- supliquei.

Sentei-nos puxando-a para o meu colo.
-Quem? - perguntei passando a mão pelo seu cabelo - tu és tu, não és como mais ninguém - murmurei - está tudo bem Sammy - dissse baixinho afagando-lhe as costas.

Encolhi-me no seu colo e enrosquei-me, como se fosse uma criança indefesa, o que se calhar até era.
- Ele disse que eu era como ela, ele disse que eu era uma...- escondi a minha cara no seu peito e agarrei a sua camisola, fechando os olhos com força.

Encostei-me à parede à qual a cama estava encostada e passei as mãos pelas suas costas semicerrando os olhos com o que me dizia.
-Quem te disse isso? - perguntei - és o quê? - abanei a cabeça fechando os olhos. - Tem calma - pedi agarrando-lhe na face e fazendo-a olhar. - Tem calma.

Funguei e olhei para os seus olhos, com os meus muito arregalados. Passei as mãos pela cara e respirei fundo várias vezes, acalmando-me ligeiramente apesar das lágrimas continuarem a correr.
- O meu pai disse que eu era uma...puta, tal como a minha mãe.- disse muito baixinho.- eu não sou isso pois não? - olhei-o com a visão turva.

Fiquei a olha-la enquanto se acalmava e suspirei fechando os olhos e encostando a minha testa à dela.
-Claro que não és - disse apertando-a contra mim - ele disse isso da boca para fora de certeza - beijei-lhe a bochecha.

Olhei-o quando encostou as nossas testas e fiz um pequeno beicinho, que era das coisas que mais odiava quando chorava.
- Ele não disse isso da boca para fora.- funguei, abanando a cabeça.- ele bebeu, ele bebeu outra vez e..- o meu queixo tremeu.- eu não aguento mais.- choraminguei.

Engoli em seco passando a mão no seu cabelo e encostando-a ao meu peito.
-Tem calma - murmurei, devia ser a única coisa que eu podia dizer. Mordi o lábio com um suspiro e encostei a minha testa à dela. Levantei-lhe o queixo e beijei-a.

Aconcheguei-me no seu peito e fechei os olhos com força, tentando acalmar-me e parar de chorar. Eram raras as vezes em que isto acontecia, eu normalmente conseguia sempre controlar-me, mas era como se agora as minhas defesas estivessem a ir abaixo aos poucos. Olhei os seus olhos quando me ergueu o queixo e já só senti os seus lábios nos meus. Oh meu deus. Agarrei a sua cara com as minhas mãos e endireitei-me um bocado de forma a beijá-lo melhor, mas de forma calma enquanto fechava os olhos devagarinho.

Sorri interiormente por ela se ter acalmado e continuei a beija-la calmamente puxando-a mais para mim. Acariciei o meu rosto quando a deixei de beijar mas não me afastei. Abri os olhos olhando-a - estás melhor? - perguntei baixinho.

Colei o meu corpo ao seu e beijei-o enquanto ele também o fez. Mordi o meu lábio levemente ainda de olhos fechados e assenti, deslizando as minhas mãos pelas suas bochechas.
- Obrigada.- sussurrei.- e desculpa...- funguei, aconchegando-me mais nele.

Abanei a cabeça com um suspiro e fechei os olhos contra os seus cabelos.
-Não peças desculpa e não agradeças, está tudo bem, eu disse que te ia ajudar e também disse que precisavas de ajuda - sorri-lhe.

Encostei a minha cabeça no seu peito e fechei os olhos, soltando um suspiro.
- Eu não preciso de ajuda.- voltei a negar.- eu só precisava de desabafar, porque quem precisa de ajuda é ele, ele precisa de mim.- murmurei, engolindo em seco.

-Ao precisares de desabafar estás a precisar de ajuda, a sério nem penses em contradizer-me porque não consegues - passei a mão pelo seu cabelo e comecei a brincar com ela deixando-a encostada a mim - Fica aqui hoje, dorme e amanhã resolves as coisas - murmurei.

Não insisti. Pelos vistos ele iria sempre contradizer-me e não estava com capacidade para teimar, pelo menos não agora. Soltei um pequeno suspiro e assenti, fechando os olhos.
- Está bem, eu não insisto e fico cá.- murmurei muito baixinho. Eu estava a sentir-me bem ali, ele tinha conseguido acalmar-me e por incrível que pudesse parecer não estava com vontade de fugir dele.

Tirei-a do meu colo e deitei-a do lado da parede cobrindo-a com a minha manta. Fui para o seu lado e encostei-me a ela ficando a olha-la.
-Eu preciso de dormir - murmurei - se..- fechei os olhos e abanei a cabeça - esquece - afundei a minha cabeça na almofada e fechei os olhos.

Aconcheguei-me na manta e cheguei-me para ele, tocando-lhe na cara enquanto o olhava também.
- Se...? - murmurei para que continuasse.- não esqueço, diz-me.- insisti. Estiquei a manta para o tapar também e funguei, continuando a dedilhar a sua face.

Continuei de olhos fechados aproveitando aquele toque na minha cara.
-Se sentires alguma coisa de estranho - mordi o lábio - acho que é melhor ires embora - abri os olhos olhando-a. - não vale a pena perguntares, tu pediste para dizer eu disse, agora vamos dormir - pedi.

Dei-lhe um beijinho na pontinha do nariz e ergui uma sobrancelha com o que ele disse. Suspirei quando não me deixou perguntar o que se passava e encolhi os ombros.
- A partir do momento em que vais tomar conta de mim, eu também o vou fazer.- continuei com as festinhas mas de olhos fechados.- e agora sou eu que digo que não vale a penas contradizeres-me.

Suspirei assentindo e encostei a minha bochecha ao seu ombro puxando-a para mim.
-Dorme bem - murmurei fechando os olhos novamente e depois de algum tempo a tentar adormecer consegui fazê-lo.

Beijei a sua testa e sorri por ver que ele estava perto de mim. Desde a gelataria que pensava que agora ele iria ter uma espécie de distância de segurança.
- Dorme bem tu também.- murmurei e fiquei a observá-lo a adormecer. Passei um dedo pela sua bochecha e sorri. Ai ai Samantha. Ai ai.

Abri os olhos despertando com os passarinhos que estavam à minha janela e resmunguei baixinho espreguiçando-me e agarrando-me almofada. Quando pestanejei algumas vezes e vi Sam ia tendo um ataque de coração lembrando-me depois da noite anterior. Bati na minha cara percebendo que continuava eu e sorri levemente voltando a encostar-me a ela até acordar.

Abri os olhos devagarinho e praguejei quando a luz solar incidiu sobre os meus olhos. Esfreguei-os apenas com uma mão e olhei para o lado, vendo Jack junto de mim. Arregalei os olhos de repente, mas depois lembrei-me do que aconteceu.
- Bom dia geladinho.- murmurei, voltando a fechar os olhos.

Sorri olhando-a.
-Bom dia - sentei-me na cama e agarrei no meu peluche começando a dar-lhe festinhas. Era um vicio de criança que eu ainda tinha.- precisa de alguma coisa? - perguntei.

Voltei a abrir os olhos e sorri quando também o fez.
- Não, estou bem por agora.- encolhi ligeiramente os ombros e olhei-o a fazer festinhas ao peluche.- é disso que sentes falta? Miminhos? - perguntei, mordendo o lábio. Mas porque é que eu fazia perguntas destas?

Olhei para o boneco distraidamente e subi o olhar para Sam quando perguntou se sentia falta de mimos.
-Desculpa? - murmurei baixinho e engoli em seco fazendo uma cara estranha. - Não... porquê? - perguntei voltando a olhar para o boneco.